Quando Jair Bolsonaro foi chamado de genocida pela primeira vez, em 2020, ainda não se tinha dimensão exata da extensão de seus crimes contra a humanidade. As acusações iniciais estavam ligadas ao seu comportamento doloso contra a sociedade brasileira por meio de uma série de medidas: atrasou de forma proposital a importação de vacinas contra a Covid-19, boicotou as medidas preventivas de isolamento e uso de máscaras, incentivou o charlatanismo por meio de remédios ineficazes e disseminou notícias falsas sobre os supostos efeitos colaterais das vacinas e os tratamentos recomendados pela ciência. Não é pouco.

Os fatos citados acima, todos de fácil comprovação em uma simples busca no Google, já seriam suficientes para que a investigação por genocídio avançasse. Para que isso ocorresse no Brasil, no entanto, precisaríamos viver sob um cenário normal do ponto de vista institucional, em que o Legislativo não tivesse sido comprado pelo Orçamento Secreto e o Ministério Público não tivesse fechado os olhos.

Agora é diferente. O caso dos Yanomamis é ainda mais grave, se é que existe algo mais grave do que atuar com o propósito de provocar mortes na população do País no qual você é presidente. Digo que é mais grave porque as provas para o genocídio dos indígenas são ainda mais contundentes, mais claras, escancaradas, mesmo. Aqui nem o mais ignorante dos bolsonaristas – perdão pelo pleonasmo – se arriscaria a contestar o ódio pela que o presidente Bolsonaro e os órgãos sob sua liderança – inclusive parte das Forças Armadas – sempre teve pela causa indígena. Não apenas desde o primeiro dia de seu mandato, mas desde sua própria juventude.

O crime de genocídio consta na lei penal brasileira desde 1956. Refere-se aos atos com “intenção de destruir, no todo ou em parte, um grupo nacional, étnico, racial e religioso”. É uma descrição exata do que Bolsonaro, Mourão, Damares, Salles e companhia fizeram ao incentivar o aumento de invasões e garimpo ilegal em terras indígenas.

Em 1993, quatro garimpeiros foram condenados pelo STF por genocídio pela morte de 16 Yanomamis, no episódio conhecido como Massacre de Haximu. Na gestão Bolsonaro, o número de invasores de terras indígenas explodiu e passou de vinte mil pessoas. O governo desrespeitou, deliberadamente, diversas decisões judiciais que determinavam a retirada dos bandidos.

Segundo o Ministério dos Povos Indígenas, 99 crianças Yanomamis entre um e quatro anos de idade morreram em 2022 graças ao impacto do garimpo ilegal. Por favor, leia de novo: crianças entre um e quatro anos. Bebês. Mortos.

O genocídio dos Yanomamis acontece diante dos nossos olhos. Bolsonaro e seus apoiadores têm as mãos manchadas de sangue. Sangue cada vez mais escasso nos pobres corpos desnutridos do povo que habitava essa terra muito antes da palavra “genocídio” sequer existir. Justiça para os Yanomami! E punição para os genocidas.