FRANÇA Um dos centros mais conhecidos de arte rupestre, a caverna de Lascaux foi reconstruída perto do sítio original (Crédito:Cotton Coulson)

Os nossos antepassados, que viveram há mais de 44 mil anos, já tinham capacidade cognitiva semelhante ao homem moderno. Hoje é possível fazer tal afirmação por causa da descoberta de um painel de pintura rupestre, de 4,5 metros de largura, em uma caverna no sul da ilha de Sulawesi, na Indonésia. Tudo que está desenhado nas pedras compõe a mais antiga representação artística da humanidade.

No início, quando se depararam com a pintura, os cientistas pensaram que não se tratava de algo inusual. Esse local já estava sob investigação há pelo menos cinco anos. Então, o arqueólogo Pak Hamrulla foi perspicaz e percebeu uma pequena fresta no teto da caverna de calcário. Aí, a equipe tirou a sorte grande. Tiveram a ideia de subir em uma árvore próxima e encontraram uma gruta onde estava o painel pintado com o pigmento ocre vermelho. Depois de observar minuciosamente os desenhos perceberam que se tratava de algo muito mais complexo.

Imaginação mítica

A composição de arte figurativa descoberta representa um relato de como se vivia naquele período. As imagens mostram seres meio homem, meio animal com cabeça de gente e corpo de réptil — uma mistura de dois seres numa só figura. Os cientistas denominam essas representações de teriantropos. Além disso, também está retratado como essas figuras híbridas caçavam javalis e búfalos anões, animais que habitavam a região no período. Acredita-se que os homens dessa época tinham uma ligação mítico-religiosa com os seres teriantropos. Para Daniele Saucedo, mestre em História do Brasil e professora de História da Arte, na Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR), trata-se de um grande indicador das relações humanas. “Simboliza algo de misterioso, de mágico”, diz. Outro importante aspecto do painel é a perceptível capacidade humana de contar uma história, de criação de um cenário narrativo. Isso é fator-chave para a evolução da espécie. “Essa descoberta nos ajuda a compreender melhor as relações humanas do passado”, explica.

ALEMANHA A estatueta do Humano-Leão tem 40 mil anos. Perdeu agora o posto de obra de arte mais antiga (Crédito:Graeme Robertson)

A descoberta surpreendente aconteceu em 2017 e é de responsabilidade dos pesquisadores Adam Brum e Maxime Aubert, da Universidade Griffith, de Brisbane, Austrália. O estudo detalhado sobre o tema foi publicado em dezembro do ano passado, na revista Nature. Para que a datação da pintura fosse a mais próxima da verdade, os professores mediram o decaimento radioativo de partículas de urânio e outros elementos em fragmentos rochosos que apareceram em parte da desgastada obra. Esses mesmos cientistas descobriram, em 2014, uma pintura de um bovino com 40 mil anos de idade, em Bornéo, na Indonésia. A mais antiga representação do tipo que surgiu na Europa, por exemplo, o Humano-Leão da Alemanha — uma estatueta de uma pessoa com cabeça de leão —, tem 40 mil anos de idade. Quando o professor Aubert viu o painel, resumiu o sentimento da equipe: “É uma cena inteira, simplesmente incrível!”.

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