Bob Dylan é um dos artistas mais influentes de todos os tempos. Vendeu mais de 125 milhões de discos, dispensando apresentações como músico. Mas, poucos conhecem o seu outro lado artístico. Isso mesmo! Além de músico e escritor, ele é artista visual com uma vasta produção de desenhos, pinturas e composições serigráficas sobre tela. Para contar essa história, clique na playlist que eu fiz, curta o quadro que eu pintei e assista ao vídeo abaixo, que mostra sua exposição em Londres.

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Para a revista Rolling Stone, ele é o 2º melhor artista da música de todos os tempos (ficando atrás somente dos Beatles) e a música “Like a Rolling Stone” foi escolhida como a melhor de todas. Seu trabalho influencia até os dias de hoje grandes nomes do rock americano e britânico. Suas músicas contam muito de sua vida e estou certa de que esta coluna terá um gosto especial se conseguir acompanhar a leitura ouvindo “Like a Rolling Stone”, “Blowin ‘in the Wind”, “Subterranean Homesick Blues” e “Hurricane”.

Bob Dylan é neto de imigrantes judeus russos e nasceu em 1941 no Estado de Minnesota (EUA). Aos dez anos de idade, escreveu seus primeiros poemas e aprendeu a tocar piano e guitarra sozinho na adolescência. Começou cantando em grupos de rock, imitando Little Richard e Buddy Holly, mas quando foi para a universidade em 1959 apaixonou-se pela música folk e pelo lendário cantor folk Woody Guthrie. Com isso, a música entrou definitivamente em sua vida na década de 1960, quando começou a cartar em Greenwich Village. Em 1964, após um grave acidente de moto, teve que ficar deitado para se recuperar. Com isso, começou a desenhar e nunca mais parou.

Já que estamos novamente em um tempo de mudanças (“The Times Are a-Changin”), vale a pena homenageá-lo contando um pouco mais sobre seus desenhos expressionistas e suas pinturas que incluem paisagens, retratos e cenas de ruas. Em 1974, tirou dois meses para estudar arte com Norman Raeben, professor da Escola Ashcan e defensor da ideia de que a vida deveria ser pintada como ela é, e não como uma imagem diferente da realidade. Na época, Dylan não só absorveu esse conceito como ficou impressionado com esse olhar, dizendo que essa filosofia permitiu fazer conscientemente o que ele sentia inconscientemente.

Foi também em 1974, depois de anos sem se apresentar, que Dylan foi surpreendido com a reação do público. Estava com sua banda em Chicago, tocando para cerca de 20 mil pessoas. A arena estava absolutamente escura. De repente, uma pessoa acendeu o isqueiro. Depois, outra repetiu o gesto. Em poucos minutos, a plateia estava toda iluminada, com milhares de isqueiros acesos. A princípio, os músicos acharam muito estranha aquela reação da multidão, mas eles interpretaram mal o gesto. Logo, descobriram que o público tinha encontrado um novo jeito de interagir com a música e demonstrar a satisfação com o som que estavam ouvindo. A partir daquele momento, os shows de rock nunca mais foram os mesmos e Dylan aprendeu que jamais podemos tomar decisões precipitadas e cada um é capaz de fazer suas próprias interpretações. “Você nasce, sabe, com nomes errados, pais errados. Quer dizer, isso acontece. Você se chama como quer se chamar. Esta é a terra dos livres”, dizia.

Como um dos músicos mais influentes do século, a visão artística de Bob Dylan definitivamente transcende o palco. Suas pinturas estão repletas de imagens clássicas americanas de lanchonetes, motéis e ferrovias. Quem olha seus desenhos tem a sensação de que está caminhando pelo interior dos Estados Unidos como se o tempo tivesse parado. Ele captura o momento instantâneo de vários lugares, pessoas e tempos. Em algumas séries, como a de estradas de ferro, repete a cena, mas muda completamente as cores, assim como os pintores clássicos, a exemplo de Claude Monet que pintou a catedral de Rouen em diferentes dias, estações do ano e horários, trazendo uma luminosidade especial para seu trabalho.

Suas pinceladas são como sua voz: direta, áspera e ocasionalmente frágil. Ele não está atrás da perfeição artística, mas de algo maior. Busca um momento, um sentimento e um instante. O resultado é cativante. Ao pintar principalmente a vida real, Dylan se mostra muito interessado em pessoas, histórias, mitos e retratos de pessoas de todos os tipos. Sua arte é comparada com a de David Hockney, um dos grandes ícones da arte contemporânea. Porém, apenas em 1994, ele concordou com a publicação do livro “Drawn Blank”, uma compilação de desenhos e esboços feitos entre 1989 e 1992 durante uma de suas turnês pela América, Ásia e Europa. Aliás, vale dizer que o Brasil já foi tema de uma série de pinturas, com agitadas cenas urbanas registradas durante algumas de suas turnês que teve por aqui. Da mesma forma, fez a Série Ásia depois de uma turnê pelo oriente em 2011.

Suas contribuições para a cultura mundial são inúmeras. Só lembrando, ele lançou mais de 50 álbuns e escreveu mais de 500 canções. Seu trabalho influencia o planeta e suas canções foram tocadas mais de 6.000 vezes por artistas como Duke Ellington, Jimi Hendrix, Guns N ‘Roses, Stevie Wonder, Rod Stewart, Red Hot Chili Peppers, Bob Marley, Pearl Jam, Neil Young, Adele e U2. Ao longo de sua vida, recebeu centenas de homenageadas e prêmios. Isso inclui um Oscar por sua canção “Things Have Changed” (2000), 12 Grammy Awards e um Prêmio Pulitzer de Citação Especial por seu profundo impacto na música popular e na cultura americana. Bill Clinton e Barack Obama entregaram reconhecimentos importantes como a Medalha Presidencial da Liberdade. Tornou-se o primeiro artista da história a ganhar o Prêmio Nobel de Literatura (2016).

É uma delícia ver o mundo por meio dos olhos de Dylan. Ele costuma dizer que suas pinturas são viagens por estradas secundárias, sem restrições e da forma mais livre possível. Para ele, a chave para o futuro está nos resquícios do passado. Sem dúvida, o passado é a nossa essência, mas a estrada que está diante de nós é uma jornada de descobertas. Se tiver uma boa história do mundo da arte para me contar, aguardo sugestões pelo Instagram Keka Consiglio, Facebook ou pelo Twitter.