Enquanto ocupou o Palácio da Alvorada, a ex-primeira dama Marisa Letícia adotou comportamento discreto. Suas mais notórias aparições públicas ocorriam nas festas juninas, quando participava das danças de quadrilha ao lado do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Recentemente, Marisa ganhou os holofotes ao protagonizar dois episódios polêmicos. O primeiro envolve um assunto criminal: a ocultação de um apartamento tríplex no Guarujá. O segundo trata de uma questão de civilidade. Em conversas telefônicas, gravadas com autorização judicial pela operação Lava Jato, a ex-primeira-dama ofendeu manifestantes que promoviam um panelaço contra a presidente afastada Dilma Roussef e chegou a sugerir, em diálogo com o filho Fábio Luis, que as pessoas “enfiassem as panelas no c…”. O que não se sabia, até a última semana, é que Dona Marisa resolveu recorrer à Justiça para tentar transformar os dois casos em fonte de recursos financeiros.

Chacota com a justiça

Acionou a Bancoop (Cooperativa habitacional dos bancários) e a OAS (empreiteira responsável pela construção do tríplex) pedindo devolução de R$ 300 mil, que teriam sido pagos pelo imóvel. O mesmo imóvel que a família vem negando ser dona desde que o caso virou alvo de investigação pelo Ministério Público paulista. Também recorreu ao Judiciário pedindo indenização de R$ 100 mil a ela, mais R$ 100 mil ao filho Fábio e R$ 100 mil a uma nora. Dona Marisa alega que sofreu danos morais por ter se tornada pública a conversa na qual ofendeu os brasileiros que batiam panelas contra a corrupção e procura responsabilizar o Estado por isso.

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Promotores ouvidos por ISTOÉ na última semana afirmaram que a ex-primeira dama “brinca com a Justiça”. O caso do tríplex no Guarujá é alvo de processo criminal por ocultação de propriedade. Envolve diretamente o ex-presidente Lula e Marisa está entre os denunciados por lavagem de dinheiro e falsidade ideológica. Autoridades acumulam provas de que a família do ex-presidente seria beneficiada pela OAS com o apartamento na cobertura no Edifico Solaris. O imóvel passou por uma série de melhorias pagas pela construtora envolvida no Petrolão. As obras foram acompanhadas de perto pela ex-primeira-dama, segundo depoimentos e fotografias que estão no processo. Diante das evidências, Marisa e Lula levantaram uma série de versões, desmontadas uma atrás da outra. Alegaram que tinham apenas uma cota de uma unidade vendida pela Bancoop, que repassou o empreendimento à OAS após quebrar. Afirmaram, em 2015, que Marisa visitou o tríplex. Mas não tinha decidido se pediria o dinheiro investido ou ficaria com um imóvel no prédio. Uma hipótese que, como ISTOÉ mostrou, não existia. A decisão de ficar com o apartamento ou não, tinha de ser tomada em 2009, segundo o termo que transferiu o empreendimento para a OAS. Quem não o fez foi acionado na Justiça, com exceção da família Lula. Chama a atenção também que os defensores da ex-primeira-dama não anexaram comprovantes de pagamento ao processo.

A segunda “brincadeira” de dona Marisa com a Justiça é ainda mais polêmica. A ex-primeira-dama, o filho Fábio Luís e a nora Renata Moreira querem R$ 100 mil cada um da União. Dizem ter sofrido danos morais com a ordem do juiz Sergio Moro de tirar o sigilo das interceptações telefônicas feitas pela Lava Jato. O “dano” que alegam ter passado foi a divulgação de ligações em que Marisa usa palavras de baixo calão para se referir aos críticos do PT. Manda os “coxinhas”, contrários ao governo, “enfiarem suas panelas no c…”. Ela parece se esquecer a razão que levou as gravações a serem feitas. Lula é suspeito de praticar crimes, incluído ocultar a propriedade do tríplex. Não foi um grampo ilegal ou uma ação promovida por um regime ditatorial. Pelo contrário. A decisão partiu de um juiz e foi referendada por outras cortes. Tampouco a ex-primeira-dama parece se dar conta do que indignou a sociedade. É de se estranhar, aliás, que Marisa reaja assim a protestos. Logo ela, que esteve junto ao marido em greves e movimentos oposicionistas desde o final da década de 70. Não precisa ser jurista para saber que, em ambos os processos, Marisa faz troça da Justiça e da opinião pública.

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