As novas sanções "sem precedentes" da UE contra Rússia

As novas sanções "sem precedentes" da UE contra Rússia

"EspecialistasBruxelas imporá limite móvel de preço ao petróleo russo, entre outras medidas, na tentativa de impactar ainda mais a economia russa. Bloco espera que conjunto de medidas incentive Moscou a um cessar-fogo com a Ucrânia.A União Europeia (UE) adotou um novo conjunto de sanções contra a Rússia na esperança de restringir sua capacidade de levar adiante a guerra na Ucrânia.

A presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, afirmou que o bloco está "atingindo o cerne da máquina de guerra russa" e manterá a pressão sobre o país até que um cessar-fogo seja acordado.

A UE sancionou os setores de energia, bancário e militar da Rússia em uma série de medidas que o Ministério do Exterior da França considerou "sem precedentes".

Quais são as sanções?

A UE estabeleceu um teto de preço dinâmico para o petróleo russo – 15% abaixo do valor médio de mercado – de 60 para 47,6 dólares (R$ 265,5) por barril

O bloco proibiu todas as transações futuras através dos dois oleodutos Nord Stream e introduziu uma proibição de importação de produtos petrolíferos refinados produzidos a partir de petróleo bruto russo e processados em um país terceiro.

O bloco baniu outros 22 bancos russos e mais de cem navios de transporte de fora da UE que fazem parte da chamada frota paralela da Rússia – navios petroleiros que operam fora do padrão das regulamentações marítimas internacionais.

Mais de duas dezenas de entidades foram submetidas a restrições de exportação mais rígidas por fornecerem à Rússia tecnologias de dupla utilização que atendem a propósitos civis e militares. Ao menos sete delas são chinesas, três de Hong Kong e quatro estão sediadas na Turquia.

O que as sanções podem alcançar?

As sanções efetivamente "mataram" os oleodutos Nord Stream, disse Ben McWilliams, pesquisador de política energética e climática do think tank Bruegel, sediado em Bruxelas.

Os oleodutos Nord Stream vão da Rússia à Alemanha através do Mar Báltico.

McWilliams destacou que mesmo após a série de explosões subaquáticas que danificaram os oleodutos em setembro de 2022, havia discussões na Alemanha sobre a possibilidade de reativação dos mesmos.

As novas sanções tornam isso ainda mais difícil, avaliou o especialista.

"Esta é uma cláusula muito importante. Qualquer pessoa poderia ter importado [petróleo] via Nord Stream, não havia nada que a impedisse", disse McWilliams à DW. "Mas agora existe uma proibição, o que significa que, em qualquer cenário futuro, independentemente da política atual, a decisão de suspender a proibição teria que ser tomada em nível da UE", com o acordo de todos os Estados-membros.

"A proibição de importações de produtos petrolíferos de países terceiros, se refinados a partir do petróleo russo, também foi bastante significativa", acrescentou.

Em linha com essa medida, a UE sancionou uma das principais refinarias da estatal russa Rosneft na Índia.

Desafios à aplicação das punições

Jakob Kirkegaard, pesquisador do Instituto Peterson de Economia Internacional, com sede em Washington, disse suspeitar que a Rússia esteja comercializando mais da metade de suas exportações de petróleo por meio de sua frota paralela.

Enquanto a Rússia enfrenta um teto de preço mais baixo para seu petróleo, o país pode ser incentivado a vender mais por meio da frota paralela, o que lhe permite escapar do teto de preço e é mais difícil de perseguir em alto-mar.

"A menos que os países do Mar Báltico declarem que não aceitaremos nenhum navio desse tipo cruzando nossas águas e simplesmente os confisquem", disse Kirkegaard, a aplicação das sanções continuará enfraquecida.

Contudo, a apreensão de navios tem seus próprios problemas e pode ser vista como uma "violação da liberdade de navegação em águas internacionais, podendo abrir um precedente", que pode ser mal utilizado por outros países.

"Além disso, é claro, há o medo de que a Rússia possa retaliar militarmente."

Os especialistas argumentaram que proibir uma refinaria de petróleo indiana de exportar produtos petrolíferos refinados seria insuficiente.

"Do jeito que a Índia vem comprando combustível russo a preços mais baixos, presumo que muitas refinarias indianas estejam refinando petróleo russo e o exportando para a UE", acrescentou Kirkegaard.

Uma vez que esses produtos refinados de petróleo, como o diesel, chegam da Índia à Europa, é impossível rastrear sua origem.

Na esteira das negociações em andamento sobre um acordo de livre comércio entre a UE e a Índia, Kirkegaard acrescentou que a Bruxelas poderia ter selado a um acordo de confidencialidade com Nova Délli antes de impor a sanção.

"Francamente, não acho que será um grande problema. Provavelmente irritará os indianos. Mas será que isso levará a uma grande crise entre a Índia e a UE? Não creio."

Irão os EUA impor e aplicar sanções?

Todos os olhos na UE estão agora voltados para Washington.

Os europeus esperam que o presidente americano, Donald Trump, cumpra sua ameaça de impor uma tarifa de 100% a qualquer país que esteja negociando com a Rússia se não houver um acordo de paz em 50 dias, o novo cronograma estabelecido por Trump.

"A UE abriu o caminho. Agora é hora da tempestade perfeita – o Senado dos EUA votar o projeto de lei de sanções à Rússia, que impõe encargos esmagadores à economia russa e aos que alimentam a guerra de agressão" na Ucrânia, afirmou o ministro do Exterior da Lituânia, Kęstutis Budrys, em postagem no X.

Ninguém, no entanto, acredita que as sanções europeias sejam suficientes para mudar o cálculo de guerra do presidente russo Putin e pôr fim à agressão russa na Ucrânia.

As punições, no entanto, podem ao longo do tempo limitar a capacidade da Rússia de infligir guerra a outros países. "O que essas sanções essencialmente podem conseguir é enfraquecer a Rússia economicamente a longo prazo", acrescentou. "A Rússia é a principal ameaça militar à UE, e é disso que a UE precisa: uma Rússia mais fraca."