A evolução tecnológica das naves não tripuladas leva aos céus, cada vez mais, cenários que parecem tirados de filmes de ficção científica. Criadas como objeto de diversão, os drones passaram a executar novas missões, bem mais amplas e estratégicas. Sempre que uma visão aérea ou um voo rápido são necessários, essas máquinas incríveis são acionadas: da vigilância de florestas à fiscalização das eleições, passando pelo transportes de órgãos humanos para transplantes ou objetivos militares, a atuação dos drones apresenta possibilidades quase infinitas.

No Brasil, o setor de logística está em fase de testes para que, em breve, ocorra o transporte de pequenos objetos e alimentos. Empresas de entregas e grandes lojas de departamentos esperam ansiosas pela agilidade do serviço e baixo custo da operação. O piloto de avião e instrutor de voo de drones, Wagner Delbaje, explica que as viagens em naves não tripuladas são muito seguras. “A grande questão é a responsabilidade no monitoramento. É muito fácil pilotar um drone”, afirma Delbaje. Segundo o piloto, há modelos customizados para tarefas específicas e complexas, mas é possível comprar equipamentos profissionais também para uso recreativo, como fotografias e filmagens, por cerca de R$ 10 mil.

O meio ambiente é um dos beneficiados imediatos com as inovações. Cientistas da USP, em parceria com a Universidade da Pensilvânia, desenvolveram um modelo autônomo que é capaz de desviar das árvores e mapear 400 mil metros quadrados em apenas 30 minutos. A Fundação Nacional do Índio (Funai) também utiliza os recursos das naves não tripuladas para sobrevoar áreas remotas e identificar populações isoladas. Foi assim que, em 2018, divulgou imagens de uma tribo no Vale do Javari, próximo ao Peru. A organização governamental WWF-Brasil, que tem como foco a defesa ambiental, investiu cerca de R$ 300 mil na compra de novos aparelhos. As naves foram doadas para entidades ligadas aos índios e têm como objetivo monitorar ameaças de fogo e desmatamento na Amazônia. Os próprios índios manuseiam os equipamentos.

Drones já são usados na agricultura há um bom tempo. A novidade é que hoje eles estão cada vez mais poderosos. São capazes de mapear as pragas e aplicar defensivos agrícolas especificamente nas áreas afetadas. A gerente comercial da XMobots, empresa especializada em equipamentos para o setor, Thatiana Miloso, conta que o investimento inicial para aparelhos adaptados para a agricultura é de cerca de R$ 70 mil. O retorno, segundo ela, é imediato. “O drone vingou no agronegócio porque consegue resultados altamente precisos. A câmera vê a planta de uma forma diferente, com infravermelho próprio, e tem a capacidade de separar o que está saudável. A eficiência e rapidez trazem grandes vantagens para o produtor”, diz Thatiana.

Prisão nas eleições

As eleições municipais também contaram com o auxílio desses vigilantes voadores. “A melhor forma de se prevenir é ser transparente com a sociedade. Hoje temos instrumentos tecnológicos que permitem a detecção de propaganda irregular”, disse o ministro da Justiça e Segurança Pública, André Mendonça. Nas diligências executadas pela Polícia Federal, foram “operados 100 equipamentos”, conforme informações do Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Um candidato a vereador foi preso em São Vicente, depois de ser flagrado pela câmera de um drone fazendo boca de urna.

Os americanos já usam a tecnologia dos drones em conflitos militares. Segundo a ONG inglesa Bureau of Investigative Journalism, o governo dos EUA promoveram, desde 2001, ao menos 13.654 ataques ao Iêmen, Afeganistão, Somália e Paquistão. A precisão dos drones é mortal e não expõe os soldados a reações inimigas.

A agilidade dos drones também é um importante instrumento de logística para a área da saúde. Em Nevada (EUA), a empresa de logística MissionGO bateu recorde ao transportar órgãos por 16,5 km em apenas 25 minutos. Em Ruanda, a companhia Zipline integra o sistema de saúde local com transporte de suprimentos médicos por drone. Os equipamentos utilizados também são capazes de monitorar a temperatura dos órgãos e diminui o número de pessoas envolvidas na operação. A multifuncionalidade das naves sugere uma revolução no transporte, com mais segurança e agilidade. As novas missões têm em comum um ganho de eficácia e diminuição de custos — o segredo do sucesso.