A história da Covid-19 ainda está sendo escrita, mas os primeiros capítulos já estão escritos. Primeiro, perderam todos os líderes que subestimaram sua gravidade ou que optaram pela negação da ação científica e organizada. O caso de Jair Bolsonaro é o mais grotesco — simplesmente prefere ver corpos sendo empilhados do que arriscar seu projeto de reeleição. Pretensão fútil, pois sua gestão já está arruinada. Ele está assumindo rapidamente a posição de novo PT: o polo maldito que unirá todo
o País contra si em 2022.

No exterior, analistas tentam prever a sociedade pós-pandemia. Governos e bancos centrais estão ampliando seu poder de forma inédita. Qual o efeito disso? No século XX, as grandes catástrofes fizeram crescer o papel do Estado, com a criação de programas de auxílio aos mais pobres (nos EUA), do sistema universal de saúde (no Reino Unido) e do Estado de Bem-Estar Social (Europa). Mas essas iniciativas também tiraram o dinamismo da economia e afetaram sua produtividade, sendo parcialmente revertidas no final do século. Agora, parece inevitável que o papel do Estado cresça, com mais intervenção — e a conta será paga pelas próximas gerações, com menos crescimento.

Em termos geopolíticos, diminui o papel dos EUA. A miopia populista de Donald Trump está criando uma avenida de oportunidades para a China. Sem contar que o capitalismo de Estado ditatorial, com controle centralizado e tecnológico, conseguiu conter a epidemia com mais eficiência. Por outro lado, a globalização, que já estava sob ataque, é colocada à prova. Depois do Brexit, a União Europeia está sofrendo seu golpe mais duro. Líderes estão se digladiando pelos recursos que vão bancar a fatura. Enquanto isso, quase todos os países avaliam se não resolveriam melhor seus problemas isolados, ainda que a cooperação global, paradoxalmente, nunca tenha sido tão necessária.

Entre as ideologias em disputa, o Brasil ocupa um papel periférico. Depois que o PT quebrou o País tentando instalar um socialismo anacrônico, além de corrupto, o novo governo oscila entre uma visão liberal e outra intervencionista. Paulo Guedes ainda flerta com o Estado mínimo, mas seu chefe sonha com o Estado forte, militarizado. Autocrático, impõe o corporativismo predatório. O passivo social está sendo ignorado. A década perdida inaugurada pelo lulopetismo vai se prolongar. O custo Brasil, agora somado ao custo Bolsonaro, aumentou o desafio para a superação da paralisia.

Paulo Guedes flerta com o Estado mínimo, mas seu chefe sonha com o Estado forte, militarizado. Bolsonaro impõe o corporativismo predatório