O governo egípcio comemorou. O secretário-geral do Conselho Supremo de Antiguidades, Mostafa Waziri, disse que a descoberta foi a maior do Egito em mais de um século e destacou que se trata do primeiro esconderijo de sarcófagos encontrado por uma missão de arqueólogos locais, “depois de anos de escavações lideradas por estrangeiros”. O anúncio feito na semana passada do achado de 30 sarcófagos intactos na necrópole de Asasif, em torno de Luxor, na margem oeste do rio Nilo, é uma das grandes novidades arqueológicas do ano. Os objetos datam de 3 mil anos quando reinaram os faraós da 22ª dinastia — e todos contêm múmias. Estão bem conservados, com suas cores vivas e inscrições completas. Guardam de homens e mulheres, além de crianças. O sexo dos mortos pode ser identificado pelo formato das mãos esculpidas no sarcófago. Mãos abertas são de múmias de mulheres e fechadas, de homens. Mas a maior surpresa, segundo o arqueólogo Zahi Hawass, foi localizar restos mortais de crianças, uma ocorrência rara.

EXPECTATIVA Estátua de Ramsés II, de onze metros de altura, na entrada do Grande Museu Egípcio: inauguração prevista para o final de 2020 (Crédito:Mohamed el-Shahed / AFP)

Anunciar periodicamente novidades arqueológicas tem sido parte fundamental da estratégia das autoridades egípcias para tentar estimular o turismo no pais, que, desde a Primavera Árabe e da deposição do ditador Hosni Mubarak, foi duramente afetado por questões de segurança. Entre 2011 e 2016 a receita turística anual caiu quase 80%. O país recebia facilmente mais de um milhão de visitantes por mês e passou a acolheu 400 mil. Desde então se verifica uma recuperação. Em 2017, o Egito foi visitado por 8 milhões de turistas e, no ano passado, cerca de 11 milhões. As descobertas arqueológicas servem de impulso para a recuperação do setor. Somente em 2019, as autoridades locais apresentaram pelo menos cinco novas “atrações”, incluindo o anúncio, em maio, da descoberta de três tumbas no deserto de Gizé, datadas de 4,4 mil anos, e a abertura da tumba de Tutancâmon, no Vale dos Reis, reformada depois de uma década de trabalho.

Complexo industrial

A melhor cartada que os egípcios têm na manga é a inauguração do Grande Museu Egípcio (GEM), um anúncio que nunca se confirma. A nova data programada pelo governo, pelo menos para um funcionamento parcial, é no final de 2020. O GEM, que fica próximo da pirâmide de Gizé, terá mais de 100 mil objetos expostos e substituirá o atual Museu Egípcio, localizado junto à praça Tahrir, no Cairo. Haverá também, pela primeira vez, a exposição do acervo completo do faraó Tutancâmon, que conta com 5200 peças, inclusive uma cadeira feita de papiro com bases de madeira. No hall de entrada do museu vê-se uma gigantesca estátua do faraó Ramsés II de 11 metros e mais de 80 toneladas.

Novo museu reunirá, pela primeira vez, o acervo
completo de Tutancâmon, com 5200 peças

É para o GEM que os sarcófagos da Asasif serão levados e ocuparão uma sala especial depois de restaurados. Eles fazem parte de uma série de achados em torno da cidade moderna de Luxor, antiga Tebas, que começou a ser escavada em dezembro de 2017. No mês passado, o governo anunciou uma descoberta, na mesma área, de um antigo complexo industrial no Vale dos Macacos, onde foram identificadas 30 oficinas de fabricação de todo tipo de produto, como objetos de ouro e móveis, além de um forno de cerâmica da 18ª dinastia. Os sarcófagos de Asasif são adornados com esculturas e desenhos intrincados, incluindo divindades egípcias, hieróglifos e cenas do “Livro dos Mortos”, que descrevem alguns feitiços que permitiam à alma prosseguir na vida após a morte. Os nomes dos mortos também foram gravados em alguns dos caixões. Segundo Zahi Hawass, a descoberta revela detalhes importantes sobre os direitos funerários no Egito antigo e mostram como eles respeitavam os mortos, independentemente de sexo ou idade. “Isso enriquecerá nosso conhecimento sobre a crença da vida após a morte”, afirmou.

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