Segunda mulher a assumir uma cadeira na história do Supremo Tribunal Federal (STF), a ministra Cármen Lúcia disse na noite desta terça-feira, 8, que o preconceito de gênero ainda afasta as mulheres das posições de poder.

“Nós mulheres já não queremos apenas ser representadas, nós queremos nos apresentar, estar presentes nos espaços públicos”, afirmou no seminário Mulheres que fazem o impossível ser possível. “Nós somos a maioria da população brasileira, somos a maioria dos eleitores, mas temos menos de 20% de representação no Legislativo e apenas uma governadora entre os 27.”

O evento em comemoração ao Dia Internacional da Mulher é promovido pela secional da Ordem dos Advogados do Brasil em São Paulo (OAB-SP), que pela primeira vez desde a sua criação tem uma presidente mulher, a criminalista Patrícia Vanzolini.

Para a ministra, ainda é preciso ‘uma grande transformação’ social capaz de abrir espaço para a participação feminina.

“Há uma invisibilidade pelas mulheres que são exatamente comportadas – aquelas que não se submetem, para aparecer, a padrões ou de beleza, ou de comportamento, segundo aquilo que foi ditado para elas e não por escolha própria. É preciso que a gente tenha transformação para que todas as mulheres tenham a visibilidade para se mostrarem”, defendeu.

Aos ouvintes, Cármen Lúcia pregou que as mulheres assumam cargos estratégicos ao invés de terceirizar a representação feminina.

“Há poucos dias atrás no Supremo um colega dizia: ‘Eu sei o que vocês querem’, referente às mulheres. Eu disse: ‘Não. Eu não quero nada sobre mim que não seja por mim mesma. Eu quero que saibam o que sinto, o que penso, e eu sei falar sobre isso. Nós não precisamos mais de uma representação permanente de grupos que podem até, política e ideologicamente nos representar, mas que ao invés de nos representar, nos substituem, como foi historicamente. Chegam aos cargos de poder e acham que sabem mais do que a gente o que a gente quer”, afirmou.

Em seu discurso, a ministra também lembrou o apagamento das mulheres ao longo da história e destacou que o preconceito de gênero é maior em relação a mulheres negas e pobres.

“As mulheres não foram invisíveis, foram invisibilizadas. Não são silenciosas historicamente, foram silenciadas por uma construção da sociedade, do poder público, do poder econômico que deixava as mulheres terem ‘o seu lugar definido’. (…) [O lugar da mulher] é em qualquer lugar que ela queira, em que ela realize a sua vocação e o seu talento em benefício de todos”, pregou.