Algumas brincadeiras de mau gosto não cabem nem mesmo numa mesa de bar. Quiçá numa transmissão ao vivo de um livre de um presidente da República. A falsa informação de Bolsonaro, afirmando que há uma associação entre a vacinação contra o coronavírus e o consequente desenvolvimento de Aids é mais um crime que precisa ser investigado. O preconceito formado em décadas de desinformação sob a doença (Aids) está no pano de fundo da fala do presidente. A doença era vista – sem qualquer comprovação científica – como uma síndrome ligada aos homossexuais nos anos de 1980. Grande bobagem difundida pela ignorância. O ex-capitão tenta requentar uma questão superada e dar munição vencida aos seus seguidores homofóbicos.

Associações médicas e profissionais especializados lançaram notas negando qualquer ligação entre a vacina contra a Covid e o tratamento contra a Aids. É mentira. E fim. Pessoas infectadas com a Síndrome da Imunodeficiência Adquirida se sentiram ultrajadas e assistem ao escárnio oficial do presidente. Seguidores do mandatário, no entanto, podem ter se sentido assustados, pois muitos ainda não tomaram a vacina contra a Covid, muito mais pela desinformação que o governante espalha por aí de forma irresponsável. Outros vão ficar expostos à Covid com medo da vacina. É um pânico desnecessário. Não importa se afetou um ou milhões de brasileiros.

A simples retirada do conteúdo das plataformas digitais, a suspensão nas mídias sociais e, um possível, banimento não são suficientes. Esse tipo de fake news precisa ser contido e criminalizado. O faroeste da Internet precisa encontrar uma limitação. A pretensa liberdade tem servido eficientemente a propagação de mensagens nocivas.

Bolsonaro não está sozinho nesse caminho. Outros presidentes e ex-governantes como Donald Trump (EUA), Nicolás Maduro (Venezuela), Muhammadu Buhari (Nigéria) e Ali Khamenei (Irã) já foram punidos pelas mídias sociais, que temem estar associadas às loucuras totalitárias desses e outros líderes de Estados. Bolsonaro não é réu primário no caso e cometeu o desatino às vésperas do fechamento da CPI da Covid.

A escalada das mentiras do presidente não é recente. Acontece desde quando ele era deputado. A impunidade criou um monstro. Não fosse ele presidente, certamente estaria fazendo companhia a Roberto Jefferson e Zé Trovão na prisão. O Supremo Tribunal Federal já averigua o crime, mas a limitação às mídias sociais é evidente e precisa ser regulada. Sob a pena de se tornarem cúmplices de um movimento de ruptura com o mandatário é urgente que a classe política se movimente nesse sentido. Todo criminoso precisa de uma sanção para entender o tamanho do dano social que provoca com uma ação, sobretudo quando ela é transmitida para milhões de pessoas. Para começar, a perda dos direitos políticos não deveria ser encarada como exagero pelo conjunto da obra.