‘As Meninas’ da Corte Real espanhola, pintado por Diego Velázquez no século XVII, saíram do quadro no Museu do Prado em Madrid para serem exibidas como esculturas nas ruas de Caracas, graças a uma reinterpretação do artista venezuelano Antonio Azzato.

Após uma grande exposição na capital espanhola chamada “Meninas Madrid Gallery”, ‘As Meninas’ (1656) chegam na Venezuela em uma experiência renovada: “Meninas Caracas Gallery”.

“Eu projeto uma escultura em branco com a silhueta de As Meninas para levá-las às ruas com uma narrativa diferente da que está no museu, para que as pessoas se conectem de maneira diferente com a arte e para gerar interesse nas pessoas que visitam os museus e saibam de onde vem essa obra”, relatou Azzato à AFP.

São dezenove meninas inspiradas na cultura venezuelana: uma representando o Salto Ángel, a cachoeira mais alta do mundo localizada no sul do país; outra vestida com uma torre de petróleo para representar a riqueza da nação; outra com um barril de rum… e todas estão nas ruas do município de Chacao, um setor de classe média alta da capital.

Do total, cinco foram arquitetadas por celebridades venezuelanas como o cantor de salsa Óscar de León, os jogadores de beisebol Gleyber Torres e Ronald Acuña, a jogadora de futebol Deyna Castellanos e o design de moda Ángel Sánchez.

Azzato encontrou inspiração após visitar o Museu do Prado: “Estava no Museu do Prado vendo o quadro e havia uma pessoa sentada chorando enquanto o observava ao meu lado, e eu disse: ‘aqui está acontecendo algo e é necessário investigar'”.

“E Velázquez foi um gênio pintando especialmente aquilo que não vemos, a alma e o ar, e assim, no ar, surgem novas incógnitas a serem decifradas. Ele pintava o que estava por trás daquele quadro, por isso cheguei à conclusão de que Velázquez precisa continuar transmitindo uma mensagem”, continuou.

-“Voltar às origens”-

Mais conhecido na Espanha do que na Venezuela, Azzato, “filho de imigrantes espanhóis e italianos”, vê a jornada da obra como um símbolo.

“É como voltar às origens, para casa”, explicou o artista, defendendo que a obra de Velázquez foi realizada “graças às riquezas americanas” porque foi pintada durante o fim do século de ouro na Espanha.

“É uma maneira de Velázquez agradecer a origem que tornou possível realizar sua obra”, acrescentou.

As obras estarão expostas por dois meses, e cinco delas serão vendidas em um leilão que beneficiará cinco ONGs do país, que enfrenta uma grave crise econômica.

A exposição traz um ar diferente à cidade. Os pedestres da estação de metrô Chacaíto observam a escultura com curiosidade – uma menina vestida com as cores da bandeira venezuelana parece estar esperando na fila para entrar em um ônibus.

A obra “traz para Caracas, para Venezuela, esta parte cultural que fazia muita falta, mostra a vivacidade e nos enche de orgulho também”, disse a gerente Maria Auxiliadora Valera, de 47 anos – é um “prazer”.

A estudante Mireya Rojas, de 20 anos, por sua vez, sente admiração: “São todas lindas”.

“Deveria haver mais cultura, principalmente coisas assim, que podem ser gratuitas. As pessoas deveriam poder admirar coisas tão bonitas como essas”, acrescentou Rojas.

“A arte é para todos”, concluiu Azzato.

pgf/ba/dga/ms/aa