Com o fim da obrigatoriedade do uso de máscaras em São Paulo e no Rio de Janeiro, desaparece o grande símbolo visual e comportamental da pandemia. No futuro, quando pensarmos nesse sombrio período entre 2020 e 2022, lembraremos desse trauma global por meio das imagens de personalidades e anônimos com a proteção no rosto – isso, claro, se não tivermos algum fato que nos obrigue a entrar em quarentena novamente.

A máscara pode ser a maior referência visual da Covid, mas a grande e trágica memória que ficará é mesmo a dos milhões de mortos em todo o mundo. Camas de hospital, covas, lágrimas. Até agora, são mais de cinco milhões de vítimas fatais em todo o mundo. No Brasil, são mais de 650 mil. Todas elas mortas por uma doença para a qual ainda não há cura. Existem, sim, vacinas bastante eficazes, desenvolvidas de forma rápida e segura, uma verdadeira revolução criada a partir do empenho dos cientistas e do avanço da tecnologia.

Como o brasileiro tem memória curta, é bom lembrar da atitude do governo Jair Bolsonaro ao longo dos últimos dois anos. Ele foi, desde o início, contra o isolamento social e a quarentena que salvou milhares de vidas. Foi também contra o uso de máscaras, chegando a tirar as proteções até do rosto de crianças, quando teve a chance. Depois, quando podia adquirir vacinas, simplesmente boicotou todo o processo, chegando ao comportamento irresponsável de sequer responder às propostas de comercialização feitas pelas grandes farmacêuticas. Nunca esqueceremos disso, Bolsonaro.

Depois, quando o Brasil passou a produzir as vacinas, graças principalmente ao esforço pessoal do governador de São Paulo, João Doria, e das equipes do Butantã, Bolsonaro tentou desacreditá-las. Deu um exemplo inverso, ao dizer que nunca se vacinaria – mas colocou seu cartão de vacinação em sigilo de 100 anos, em atitude sem transparência e covarde. Chegou ao extremo de insinuar que quem fosse vacinado poderia ser infectado com o HIV, o vírus da Aids. Até onde poderia chegar a crueldade desse homem? Para quê? Qual o objetivo de ver mais brasileiros mortos em vez de vê-los vacinados, com probabilidade quase zero de morrer? Nunca esqueceremos disso, Bolsonaro.

O negacionismo do governo e de seus ministros da Saúde, Eduardo Pazuello e Marcelo Queiroga, contribuiu para um número maior de brasileiros mortos. Isso é um fato incontestável, assim como dois mais dois são quatro. É uma lógica que até os bolsonaristas têm dificuldade para refutar: a vacina previne mortes e a atitude do presidente atrasou a vacinação. Isso não é uma questão de opinião, mas uma verdade objetiva. A pergunta que não quer calar é: quantas vidas poderiam ter sido salvas se ele tivesse comprado vacinas, em vez de tentar enganar o povo com medicamentos comprovadamente ineficazes? Essa pergunta vai assombrar o Brasil para sempre. E nunca esqueceremos disso, Bolsonaro.