Ver um atleta desacreditado ou um time que ninguém nem sequer sabia que estava competindo levar uma medalha de ouro é sempre um dos pontos altos das Olímpiadas. Torcer pelo azarão faz parte da natureza humana porque traz a nós a impressão de que qualquer coisa, por mais improvável que seja, é possível. Como parte do aquecimento para os Jogos de Tóquio 2020 que começam daqui a menos de um mês, listamos algumas das maiores zebras da história.
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1) Estados Unidos medalha de ouro no hockey em 1980
Durante as Olimpíadas de Inverno de 1980, em Lake Placid, os Estados Unidos protagonizaram uma das maiores zebras da história. Com um time formado por atletas universitários amadores, os americanos levaram o ouro para casa, depois de bater o “dream team” da União Soviética por 4×3 na final. Os americanos não eram sequer cotados para passar da fase de grupos, mas avançaram eliminando outros favoritos como Suécia e Tchecoslováquia no caminho. O evento, extremamente celebrado por conta do cenário político tenso da Guerra Fria, é conhecido como o “milagre no gelo”.
2) Emil Zátopek – Medalhista de ouro da maratona em 1952
Depois de conquistar as medalhas de ouro nos 5 km e 10 km, a “locomotiva de Praga” decidiu se aventurar na maratona, apesar de não ter nenhuma experiência em corridas acima de 10km. Para a surpresa de todos, o checo não apenas faturou a sua terceira medalha de ouro como também bateu o recorde olímpico. Emil é, até hoje, o único atleta da história dos Jogos a vencer as três categorias em uma só edição.
3) Argentina medalha de ouro no basquete em 2004
Apesar de contar com uma boa geração, liderada por Manu Ginobli, ninguém esperava que a Argentina pudesse fazer frente aos americanos. Atuais tricampeões e com atletas como Lebron James, Tim Duncan e Dwayne Wade à sua disposição, todos esperavam mais uma vitória quase que protocolar dos Estados Unidos. No entanto, o time nunca decolou em quadra, chegando a perder até mesmo para Porto Rico na fase de grupos. Com uma atuação memorável de atletas como Manu Ginobbli e Luis Scola, a Argentina derrubou os favoritos na semifinal e conquistou o ouro batendo a Itália na grande final. Esse é, até hoje, o único fracasso olímpico dos EUA desde que eles começaram a ceder atletas da NBA em 1992.
4) Holanda medalhista de ouro no remo em 1900
Quando criança, você certamente já chegou a chamar um desconhecido para completar um time de futebol quando um amigo não apareceu, não é mesmo? Em uma época com bem menos regras do que hoje, a Holanda fez a mesma coisa. Faltando poucas horas para o início da competição, os holandeses tinham um atleta a menos que o resto e, para completar a equipe, chamaram uma criança francesa que por sorte estava por perto. De maneira inacreditável, os holandeses conseguiram surpreender a todos e venceram a prova, conquistando a medalha de ouro.
5) Billy Mills medalhista de ouro nos 10km em 1964
O americano era desconhecido pelo público antes dos Jogos de Tóquio e conseguiu, de maneira já surpreendente, se classificar para a final da categoria. Competindo com o recordista mundial da época Ron Clarke, cujo tempo recorde era cerca de 1 minuto mais rápido do que o resultado qualificatório do americano, Billy assombrou o mundo. Durante a prova, Mills se manteve o tempo todo em terceiro lugar, atrás do australiano Clarke e do tunisiano Mohammed Gammoudi até que, nos 100 metros finais, deu um pique espetacular, deixou os favoritos comendo poeira e levou o ouro para casa. Após a vitória, o americano disse que durante o arranque final ele estava tão cansado que sua visão ficava indo e voltando.
6) Kipchoge Keino medalhista de ouro nos 1.500m em 1968
Diagnosticado com uma infecção na vesícula logo antes da prova final dos 1.500m, o queniano foi aconselhado a desistir pelos seus médicos, que chegaram a dizer que ele poderia morrer caso corresse. No entanto, alegando ser uma corrida curta, Kipchoge contrariou os médicos e decidiu participar da prova. Além dos problemas físicos, Keino teve que superar também uma questão logística: chegar no estádio. O ônibus da delegação acabou ficando preso no trânsito da Cidade do México e, para chegar a tempo na prova, Kipchoge teve que correr os últimos 2km até o estádio. Contrariando todos os prognósticos, Kipchoge fez uma prova espetacular e faturou a medalha de ouro batendo o favorito Jim Ryun com uma diferença de 20m na hora da chegada – marca que é recorde olímpico até hoje.
7) Reino Unido medalhista de ouro nos 4×100 em 2004
Quando os americanos terminaram os 100m com o ouro, o bronze e o quarto lugar, todos esperavam que o revezamento 4×100 fosse ser um passeio no parque para eles. Com nomes consagrados como Justin Gatlin, Maurice Greene e Shawn Crawford na equipe, os Estados Unidos pareciam imbatíveis. Olhando os tempos classificatórios, a situação fica ainda mais absurda: apenas cinco corredores conseguiram correr abaixo dos 10 segundos, sendo três deles americanos. No entanto, a corrida em questão envolvia a troca de bastões e, enquanto os americanos patinaram nesse quesito, os britânicos foram perfeitos. Aproveitando um vacilo na troca de bastões entre Gatlin e Coby Miller, o time britânico assumiu a ponta e venceu a prova pela menor margem possível: 0,01 segundos.
8) Fanny Blanker-Koen ouro no atletismo em 1948
O auge físico de Fanny Blankers foi, infelizmente, durante a segunda guerra mundial. A holandesa quebrou diversos recordes mundiais entre os anos de 1939 e 1945 e parecia estar na reta final da carreira em 1948. A atleta era considerada “velha” por já ter trinta anos e ter sido mãe duas vezes. Além disso, ela sofreu muitas críticas e preconceito na época por escolher competir ao invés de cuidar dos seus filhos. Para os Jogos de Londres, a holandesa decidiu participar de apenas 4 provas: 100m, 80m com barreiras, 200m e 4×100. De maneira surpreendente, Fanny venceu as quatro e ganhou o apelido de “the flying housewife” (a dona de casa voadora, em tradução livre). O feito é ainda mais impressionante se você levar em conta que todas as medalhistas nos eventos individuais tinham no máximo 23 anos.