O povo, em incontida euforia, aguardava a passagem de seu herói.
O Senado, em indisfarçável apreensão, esperava a chegada do seu general.
O Triunfo era uma grande celebração oferecida pelo Senado romano a um general detentor de um mérito militar excepcional refletido em uma campanha de conquista para o império.
A procissão marchava ao longo da Via Sacra, principal estrada cerimonial de Roma, exibindo os estandartes, os espólios e os cativos conquistados na batalha.
O comandante desfilava em uma carruagem, vestindo-se como as estátuas de Júpiter, com um escravo a segurar uma coroa de louros sobre sua cabeça.
Esse servo sussurrava continuamente ao ouvido do general: “memento mori” (lembra-te que és mortal), destacando a natureza humana do guerreiro embevecido.
O ápice das homenagens era a execução ritual do líder inimigo capturado.
Apesar desse jubiloso reconhecimento, o general demonstrava sua subordinação ao Senado, efetivo legislador do império, deixando acampadas suas tropas principais para além do rio Rubicão, divisor da província da Gália Cisalpina ao Norte e o território da cidade de Roma.
No terreno sagrado da cidade eterna, o pisar das cáligas – como eram chamadas as sandálias de couro dos legionários – macularia o respeito mútuo entre a lança e o escudo, e o pergaminho e a pena.
Há muitos simbolismos dessas cerimônias romanas que foram incorporadas nas festividades políticas e militares em nossos tempos.
Às 14h30, do próximo domingo (01.01.23), o presidente eleito será empossado pela vitória na batalha das urnas.
A Via Sacra será o Eixo Monumental apinhado de admiradores em seu costado. A carruagem, o lendário Rolls-Royce negro em marcha lenta.
Algumas distinções demonstram a acomodação dos ritos à evolução dos tempos. O escravo a lembrar-lhe sua natureza humana é o mesmo povo que o elegeu. O espólio e os cativos vencidos já não se fazem presentes.
O espólio a todos nós, o povo, nos pertence. Os cativos, assim que são contabilizados os votos, se incorporam aos nativos das tribos vencedoras.
Governar é um ato de ação, pleno de idealismos, que deve se vestir do tecido da união fiado entre o detentor do poder e aqueles que o escolheram.
É, como disse José Ortega y Gasset, tomar a Nação como um projeto sugestivo de vida em comum.
Aos governantes pede-se humildade para aceitar a discordância propositiva, resiliência para convencer dos bons propósitos e firmeza nas ações empreendidas.
Na Roma antiga, os vencedores que fizeram ouvidos de mouco aos escravos pragmáticos, e desconheceram o sentido de coesão, logo desapareceram na obscuridade da história. A lição do passado se mantém presente.
Paz e bem!