Com mais de 300.000 mortos apenas este ano e um quarto da humanidade infectada, outra pandemia não mostra sinais de enfraquecimento. No entanto, diferentemente do novo coronavírus, a tuberculose, entre nós há centenas de anos, é curável.

Por ocasião do Dia Internacional de Combate à Tuberculose esta semana, os especialistas alertam para os sobreviventes da tuberculose, que sofrem de sequelas pulmonares, particularmente vulneráveis à Covid-19.

Esta doença, latente em um quarto da população mundial, infecta cerca de 10 milhões de pessoas a cada ano, e mais de 1,2 milhão morrem dela, apesar de ter sido declarada uma emergência de saúde pública pela Organização Mundial da Saúde (OMS) em 1993.

Mas, embora as populações mais pobres sejam as mais afetadas, a doença não é necessariamente a prioridade dos políticos.

Especialistas dizem que os sistemas de saúde em todo o mundo podem aprender com a luta contra a tuberculose, contra à qual há uma vacina e um teste de diagnóstico que leva apenas alguns minutos.

“Sabemos o que funciona contra a Covid-19, graças à nossa experiência e às ferramentas que usamos contra a tuberculose: controle de infecção, testes em larga escala, rastreamento de contatos”, diz Jose Luis Castro, diretor executivo da União Internacional contra Tuberculose e Doenças Pulmonares.

“A prevenção de qualquer doença requer vontade política – e a prevenção continua sendo a ferramenta mais importante contra a Covid-19”, acrescenta ele.

O novo coronavírus é oficialmente responsável por mais de 19.000 mortes em todo o mundo. Governos de todo o mundo adotaram medidas de contenção sem precedentes para retardar seu progresso.

“Com a tuberculose, lutamos por pesquisas e investimentos para desenvolver ferramentas de diagnóstico confiáveis e melhores tratamentos, mas finalmente chegamos lá”, comenta Grania Brigden, da União Contra a Tuberculose.

“Isso mostra que, quando há vontade política, as coisas podem acontecer e, infelizmente, para a tuberculose, a vontade política sempre foi um problema”, comentou à AFP.

Em vários países na vanguarda da luta contra a tuberculose, os serviços de tratamento e testagem foram interrompidos pela Covid-19, que pesa muito sobre os sistemas de saúde.

A nova epidemia também interrompeu as cadeias de suprimentos de medicamentos e equipamentos usados para tratar outras doenças, como máscaras e antibióticos.

E a preocupação com a disseminação do novo coronavírus, principalmente na África subsaariana e no sul da Ásia, onde os sistemas de saúde são frágeis, preocupa a comunidade médica.

“Pessoas infectadas com tuberculose, HIV ou outras doenças infecciosas, bem como prisioneiros, migrantes e pessoas que vivem na pobreza podem ter ainda menos acesso aos cuidados”, ressalta a União Contra a Tuberculose.

“Espero que esta situação (a epidemia de coronavírus) nos ajude a entender que a saúde global é importante e que devemos proteger os mais vulneráveis e em risco, fora de nossas próprias bolhas”, conclui Brigden.