Quase todas as joias contrabandeadas e conhecidas da família imperial russa já foram recuperadas e postas em leilão. Porém, em épocas de crise econômica, novidades aparecem devido ao seu grande valor de mercado e não apenas por sua origem nobre. Quando fazem parte do espólio dos últimos remanescentes da família Romanov, alcançam valores milionários, claro. Esse é o caso de um conjunto de brincos e de um broche feitos com safira e diamantes, legado que foi a leilão no dia 10, na Suíça, pertencentes à grã-duquesa Maria Pavlovna, casada com o terceiro filho do czar Alexandre II, o grão-duque Vladimir Alexandrovich. Maria era tia do futuro e último czar da Rússia, Nicolau II, assassinado junto com todos os seus herdeiros, inclusive a filha Anastasia, em 1918.

TRAGÉDIA O fim da realeza russa aconteceu em 1918, quando toda a família do czar Nicolau II foi assassinada (Crédito:Divulgação)

A história de como as suas últimas joias pessoais, as que conseguiu esconder antes da revolução de outubro, é digna de um filme de Hollywood. As peças foram coletadas secretamente no Palácio Vladimir, em São Petersburgo, em setembro de 1917. Mantidas em um cofre secreto e então desmontadas para saírem da Rússia, foram cuidadosamente dobradas em jornais velhos com destino a Londres — isso não só em meio à revolução de Lenin e sua trupe, mas também durante a Primeira Guerra. Mesmo assim, a grã-duquesa confiou seu pequeno tesouro a Albert Henry Stopford, um negociante de antiguidades britânico especializado em jóias Fabergé e Cartier e também a um mensageiro diplomático para transportar secretamente sua coleção com segurança para a Inglaterra.

Durante os dois conflitos, o caminho mais seguro para sair de São Petersburgo e chegar até a Europa era primeiro de trem, através da Finlândia, que na época já estava nas mãos dos russos, e então seguir para a Suécia e depois para Bergen ou Arendal, na Noruega. Como os submarinos alemães patrulhavam o Mar do Norte, a viagem do sul da Suécia à Escócia foi escolhida como a jornada mais curta e segura para o navio a vapor. A tia de Nicolau II foi uma das últimas da família Romanov a deixar a Rússia, apenas em 1919, um ano após ver sua família dizimada. Ela, infelizmente, morreu logo em seguida, em 1920, em Paris. Suas pedras ficaram nas mãos de sua filha, Helena, casada com o príncipe Nicolau da Grécia e Dinamarca, com quem viveu no exílio.

Vão-se os anéis…

A grã-duquesa era conhecida por esconder as joias mais discretas em garrafas, solas de sapato e onde mais conseguisse. Deixou uma herança até modesta, como diversas abotoaduras, porta-cigarros cravejados de brilhantes e até lenços, todos vendidos anteriormente por milhões de reais. Faltava o magnífico broche de safira azul com diamantes de 26 quilates e nos brincos, com pedras de nove e seis quilates, respectivamente. Avaliados em singelos R$ 1.547 milhão, foram arrematados no leilão por módicos R$ 4.822 milhões, o que é uma gota no oceano da fortuna acumulada por Maria Pavlovna. Ainda pode existir muita riqueza perdida dos Romanov. E se há outros tesouros a serem descobertos, só o tempo dirá.

Nobre Baladeira

Maria Pavlovna era conhecida por ser uma das anfitriãs mais populares de São Petersburgo. Ao lado do marido, o grão-duque Vladimir Alexandrovich, deu grandes festas até ficar viúva, em 1909. Morava no Palácio Vladimir, próximo ao Palácio de Inverno, onde vivia seu sobrinho, o czar russo Nicolau II. A realeza russa pré-revolução era numerosa. Público não faltava para seus bailes. Sua bisneta, a autointitulada grã-duquesa Maria Vladimirovna, aos 67 anos, disputa a liderança da família Romanov.