Conselheiro da Funcef, o fundo de pensão da Caixa Econômica Federal, o engenheiro Max Mauran Pantoja da Costa, conhecido na própria Funcef pelos seus destemperos, quer dar um golpe de mestre. Há algumas semanas, ele apresentou uma denúncia ao Ministério Público Federal (MPF-DF) com uma série de supostas irregularidades cometidas por Joesley Batista, acionista da J&F, e José Carlos Grubisich, presidente da Eldorado Celulose. Se as acusações forem levadas adiante, elas resultarão, entre outras penalidades, no afastamento dos executivos do comando da Eldorado, uma das inúmeras empresas que fazem parte da holding J&F, também controladora de gigantes como JBS, Vigor e Alpargatas. O detalhe estapafúrdio é que, caso os diretores sejam afastados de suas funções, a gestão da Eldorado será transferida para os dois fundos de pensão (Funcef e Petros) que são também acionistas minoritários da companhia de celulose. Como já foi dito no começo desta reportagem, Max Pantoja é conselheiro da Funcef. Ou seja, ele incita uma denúncia para, no final das contas, beneficiar a si próprio. Na terça-feira 14, os advogados de Joesley e Grubisich entregarão ao juiz Wallisney de Souza Oliveira, de Brasília, os argumentos da defesa contra o pedido do MPF-DF, que também determinou o bloqueio de bens e ativos de até R$ 3,8 bilhões dos dois executivos.

Não é difícil entender por que a denúncia de Max Pantoja é um factóide sem sentido. As divergências entre a direção da Eldorado e o representante da Funcef começaram em setembro do ano passado em consequência da Operação Greenfield, que apura irregularidades em fundos de pensão. Segundo a denúncia, os fundos teriam seus interesses prejudicados na Eldorado. Os fatos mostram que isso não é verdade. De acordo com a Funcef e a Petros, suas ações na Eldorado totalizaram R$ 3 bilhões, o que representa uma grande valorização sobre o investimento realizado pelas fundações. Por conta da operação Greenfield, a empresa de celulose contratou duas auditorias independentes, a Ernst & Young e a Veirano Advogados, à pedido e com a aprovação do conselho de administração, para fazer uma investigação independente sobre as denúncias do Ministério Público. Contraditoriamente, o MP, que alega querer resguardar os interesses dos próprios fundos com essas ações, põe em sérios riscos a expansão da nova fábrica – para não dizer a sobrevivência da própria empresa Eldorado.

RESPOSTA Em nota, a Eldorado de José Carlos Grubisich diz que “as denúncias são infundadas e com caráter de interesses pessoais de Max Pantoja da Costa”
RESPOSTA Em nota, a Eldorado de José Carlos Grubisich diz que “as denúncias são infundadas e com caráter de interesses pessoais de Max Pantoja da Costa”

Depois de rigoroso levantamento, concluiu-se que as ações do fundo valem R$ 1,5 bilhão. Max Pantoja, porém, disse ao MPF-DF que as auditorias manipularam relatórios e que estariam jogando os preços para baixo para que a Eldorado possa comprar as ações por valores menores. Ao afirmar isso, ele não apenas questiona a lisura da Eldorado, mas também a idoneidade de duas outras corporações. A Ernest & Young , vale lembrar, é uma empresa centenária com presença em mais de 150 países. Fundada em 1972, a Veirano é um dos escritórios de advocacia mais respeitados do País. Além disso, Max Pantoja esqueceu de dizer que participou de todas as reuniões do conselho em que os relatórios das auditorias foram apresentados sem contestação dele ou de qualquer outro participante.

Segundo fontes do mercado, o que está desvalorizando as ações é um motivo muito mais prosaico: a queda do dólar. Em 2015, ele estava cotado a R$ 4 e o preço da celulose chegava a R$ 680 por tonelada. Dois anos depois, a moeda americana gira em torno de R$ 3,10 e a tonelada de celulose não passa de R$ 480. Apesar da verdade inquestionável dos números, Max Pantoja insiste na tese furada de que houve manipulação das auditorias.

Em outubro, o MPF-DF propôs um acordo entre a Eldorado e os fundos de pensão. Ou a empresa pagava um seguro bancário de R$ 1,5 bilhão para que os fundos tivessem a garantia de que não seriam prejudicados ao final de um processo de reavaliação do controle acionário ou a Eldorado recompraria as ações dos fundos de acordo com a avaliação. O surpreendente é que o acordo vale até 31 de março deste ano. Ou seja, ainda está em vigor, mas o conselheiro da Funcef prefere dar as costas para o que foi assinado.

Denúncias estapafúrdias

Pantoja também colocou sob suspeita uma operação corriqueira do setor de papel e celulose. A empresa adquiriu, por R$ 190 milhões, madeira da Eucalipto Brasil, de propriedade do empresário Mário Celso Lopes. Segundo o conselheiro da Funcef, a operação teria sido feita para comprar o silêncio de Mário, que já foi sócio de Joesley na criação da Florestal, empresa que antecedeu a criação da Eldorado. De acordo com as tresloucadas teorias conspiratórias de Pantoja, Mário Lopes receberia o dinheiro para não divulgar irregularidades da Eldorado. Pantoja só esqueceu de dizer que irregularidades seriam essas. A Eucalipto Brasil é uma das maiores fornecedores de madeira do País – e a Eldorado, como muitas outras empresas, precisa desta matéria-prima indispensável para o seu ramo de negócio. O que há de errado nisso?

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Ué? O diretor da Funcef, Max Pantoja, critica decisões aprovadas pelo conselho da Eldorado, do qual ele faz parte
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Em comunicado, o Grupo J&F afirmou que “foi surpreendido com o pedido do MPF-DF de medidas judiciais contra Joesley Batista e José Carlos Grubisich, as quais tiveram como base denúncias estapafúrdias, infundadas e com caráter de interesses pessoais de Max Mauran Pantoja da Costa.” Já á Ernst & Younf declarou que “repudia veementemente as ilações veiculadas que evidenciam falta de conhecimento do escopo e produto do trabalho executado.” Por fim, a Veriano Advogados afirmou que seu trabalho “foi conduzido com a independência e a ética que sempre pautaram a atuação do escritório.

Conselheiro da Funcef quer afastar executivos da Eldorado para ele mesmo assumir a direção da empresa


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