Brasil/Democratização 1978

Foi muito mais que uma onda de greves por melhores condições de trabalho e pressão por aumento salarial. Nos grandes movimentos grevistas da região do ABC, iniciados no final da década de 1970, o sindicalismo brasileiro renasceu. Com ele, ganhou corpo a conscientização dos direitos dos trabalhadores, surgiram novas lideranças políticas e o País iniciou uma marcha inexorável rumo à democracia. “Não era apenas a voz dos metalúrgicos que se fez ouvir ali, mas uma voz de resistência e enfrentamento à ditadura”, diz Guilherme Boulos, dirigente do Movimento Nacional dos Trabalhadores sem Teto e da Frente de Resistência Urbana. “Nascia ali uma mobilização social inédita, que depois desaguaria na campanha das Diretas Já”.

CAPA HISTÓRICA ISTOÉ - foi a primeira revista a dedicar espaço nobre ao sindicalista Lula. Na capa ao lado, de 1979, a pergunta anteviu o futuro político do então metalúrgico
CAPA HISTÓRICA ISTOÉ foi a primeira revista a dedicar espaço nobre ao sindicalista Lula. Na capa ao lado, de 1979, a pergunta anteviu o futuro político do então metalúrgico

As mobilizações se deram em várias fases, com início em maio de 1978. Na sexta-feira, 12, mais de 3 mil metalúrgicos da montadora de caminhões Scania, em São Bernardo do Campo, entraram na fábrica, mas não ligaram suas máquinas. Greves eram proibidas. Paralisações, não. Organizada dentro do banheiro da fábrica, a greve se alastrou pelo ABC paulista. Sete meses depois, o governo contabilizava 429 paralisações espalhadas pelo País.

Conquistas

Nos anos seguintes, os movimentos grevistas ficaram ainda maiores. Em 1979, o então líder metalúrgico Luiz Inácio Lula da Silva arrastou mais de 80 mil operários para uma assembleia no Estádio da Vila Euclides, também em São Bernardo. Os militares reagiram às manifestações ocupando o sindicato, prendendo Lula e cassando o mandato de toda a diretoria. O movimento se tornou ainda mais forte, com Lula se firmando como uma nova liderança política, participando da fundação do Partido dos Trabalhadores. “Minha geração é herdeira do que as greves do ABC conquistaram”, afirma Boulos, 34 anos.

ISTOÉ foi pioneira em captar a transformação social que aquelas greves detonariam — e teve a coragem de colocar o sindicalista Lula em reportagens de capa que fizeram história no jornalismo brasileiro.

“Não era apenas a voz dos metalúrgicos que se fez ouvir ali, mas uma voz de resistência e enfrentamento à ditadura” Guilherme Boulos, 34 anos, dirigento do MTST
“Não era apenas a voz dos metalúrgicos que se fez ouvir ali, mas uma voz de resistência e enfrentamento à ditadura” Guilherme Boulos, 34 anos, dirigento do MTST (Crédito:Agência Brasil)