Aprimeira fotografia da história acabara de nascer pelas mãos do francês Joseph Niépce – era o ano de 1836 e ele conseguira produzi-la por meio de uma câmara escura. A sua criação foi rapidamente aperfeiçoada, surgiu então a câmera fotográfica e essa novidade tecnológica, a maior da época, frequentou de imediato o vasto universo cultural de dom Pedro II, imperador do Brasil de 1840 até a proclamação da República, em 1889.

Pedro II colecionou cerca de trinta mil imagens, muitas feitas por ele, outras compradas de mercadores – e nessas, vaidosa e merecidamente, o monarca fazia questão de aparecer. Todas as fotos registram, no entanto, suas viagens em busca de vestígios de antigas civilizações.

Parte dessa maravilhosa coleção, que hoje pertence à Biblioteca Nacional, está agora aberta ao público na mostra Uma viagem ao mundo antigo – Egito e Pompeia – nas fotografias da Coleção de D. Thereza Christina Maria. Era ela a sua esposa e imperatriz consorte do Brasil.

A exposição proporciona um mergulho na história da civilização e uma rara oportunidade de conhecer por inteira a alma desse que foi o melhor imperador de nosso País: um homem culto, estudioso, amante das artes e das viagens. “Dom Pedro II não fazia turismo, suas andanças eram verdadeiras expedições”, diz o curador Joaquim Marçal . “Ele sempre se colocava indagações sobre as civilizações e viajava em busca de respostas”.

O imperador fotografou monumentos do antigo Egito. Na arquitetura dessa
exuberante civilização buscava compreender a cultura do século 19, época na qual viveu

MEMÓRIA DO MUNDO

As cento e dezenove imagens que compõem a mostra ilustram sobretudo as duas viagens que dom Pedro fez ao Egito – a primeira em 1871, a outra cinco anos depois. E também a visita a Pompeia. No Egito, o imperador e Thereza Christina conheceram e fotografaram os monumentos erguidos pelos povos que viveram às margens do Rio Nilo por volta do 5 mil a.C.

Em Pompeia, ele esteve no topo do vulcão Vesúvio, que aniquilou a cidade com uma de suas erupçõe em 79 a.C. Tudo isso está exposto na Biblioteca Nacional. “É uma valiosa oportunidade para mostrarmos um dos muitos segmentos da fotografia estrangeira da Coleção D. Thereza Christina Maria”, diz Marçal. “Há ruínas que encerram sete mil anos de história e ninguém ficará indiferente diante de tudo isso”.

Levando-se em consideração o tempo transcorrido, a qualidade dos registros é bastante boa. O curador atribui isso ao fato de diversos originais nunca terem sido manuseados nem colocados à vistação públicação. Ou seja: há muita coisa inédita na exposição.

As fotografias em questão compõem somente um dos itens entre os cerca de cem mil que integram o acervo pessoal de Pedro II, doados ao Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro e à Biblioteca Nacional em 1892, época em que ele estava exilado em Paris.

O arquivo recebeu o nome de Coleção D. Thereza Christina Maria a pedido do próprio imperador. Além das fotos, a Biblioteca guarda atualmente livros, mapas, estampas, periódicos e diversos manuscritos. Por ser a mais abrangente coleção de fotografias formada por um governante do século XIX, ela está inscrita no programa Memória do Mundo, da Unesco.