Chega a ser ridículo para não dizer vergonhoso, o ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, declarar, em discurso na Assembléia Mundial de Saúde, na Organização das Nações Unidas (ONU), em Genebra, que o governo brasileiro teve desempenho satisfatório no combate à pandemia. É uma afirmação risível, que ofende o bom senso. Os atrasos sucessivos na compra de vacinas, a crise sanitária em Manaus, a falta de oxigênio, a escassez de testes, as críticas de Jair Bolsonaro à imunização, os elogios à cloroquina, todos os erros graves cometidos no enfrentamento da Covid-19 nos últimos dois anos foram colocados debaixo do tapete por Queiroga. Querendo posar de bacana internacionalmente e livrar a cara de um presidente inapto, o ministro fez politicagem ao tentar encobrir seu próprio fracasso e de seus antecessores. Com 666 mil óbitos, o Brasil é o segundo país do mundo em que a doença foi mais letal. Só é superado pelos Estados Unidos, onde 1 milhão de pessoas morreram até agora.

Infectologistas estimam que entre 100 mil e 150 mil mortes poderiam ter sido evitadas no País se o governo tivesse agido corretamente e não quisesse impor sua visão negacionista goela abaixo da população. Dúvidas desnecessárias foram instaladas na mente dos brasileiros em relação à eficácia da vacina. E um remédio que não funciona foi promovido abertamente por Bolsonaro e pelo próprio Queiroga. Mas para o ministro foi tudo uma maravilha. Ele disse, por exemplo, que o Brasil reduziu em 90% os óbitos pela Covid-19 no último ano. Isso, porém, se deve exclusivamente à eficiência do SUS, que foi capaz de colocar uma campanha de vacinação de pé apesar da lerdeza do governo para comprar vacinas, o que teve um custo de milhares de vidas e contribuiu para a superlotação dos serviços de saúde.

Como é de seu feitio, o governo tenta livrar a própria cara dos erros colossais que comete. Num lance de escárnio, Queiroga disse que desde o início da Covid-19, Bolsonaro atuou para preservar vidas, conciliando o equilíbrio econômico e a justiça social, o que não é verdade. Sempre que pôde Bolsonaro tentou boicotar as medidas restritivas e o uso de máscaras e trabalhou a favor da morte. Procurou o tempo todo criar um clima de incerteza em relação às determinações médicas e politizou a doença de uma maneira vergonhosa. Apesar do que diz Queiroga em seu esforço de enganação internacional, o Brasil errou feio na pandemia. E, definitivamente, o ministro é um cara de pau.