Trump, Macron, Zelensky: as fake news internacionais mais bizarras de 2024

De fraldões na eleição americana a grilos no chocolate e migrantes comedores de pets: nada disso aconteceu em 2024 – um ano forte para os forjadores de mentiras e realidades falsas, com auxílio de IA e deep fakes

Trump, Macron, Zelensky: as fake news internacionais mais bizarras de 2024

1. Trump não usou almofadas para incontinência em público

A campanha eleitoral dos Estados Unidos foi marcada por artilharia verbal pesada, sem deixar de fora almofadas para incontinência e fraldões, pelo menos nas redes sociais. Boatos de que o candidato Donald Trump ou o presidente Joe Biden eram incontinentes se espalharam como fogo na floresta. A “prova” eram fotos e vídeos de ambos usando os artefatos correspondentes em situações públicas. Só que as imagens não são reais.

Por exemplo: uma de Trump supostamente sentado numa almofada para incontinência durante um talk show pode ser facilmente desbancada, assistindo-se ao vídeo original: pouco antes de o político sentar-se no sofá, não há nenhuma almofada, só o paletó dele pendendo para os lados.

2. Nada de chocolate recheado com grilos inteiros

Em 2023, uma empresa alemã de chocolates publicou no Instagram a foto de uma barra de chocolate com grilos inteiros dentro, uma suposta edição especial de “alta proteína” para atletas.

Pouco antes das eleições para o Parlamento Europeu de 2024, a imagem reapareceu, coincidindo com o grande volume de desinformação relacionado à aprovação pela União Europeia de alimentos à base de insetos.

Porém a Rittersport comunicou que na época a foto era apenas uma gag de publicidade, e que até hoje ela não produz nenhum chocolate “grilado”.

3. Imigrantes não devoram bichos de estimação

Um dos maiores trotes do ano foi o boato de que imigrantes estavam comendo bichos de estimação, de cães e gatos a gansos – a criatividade do menu não tinha limites. Tudo começou com uma postagem no Facebook, sendo amplificado por Trump em seu primeiro debate televisado com a candidata democrata Kamala Harris.

Entre outras observações anti-imigrantes naquela noite, o ex-presidente afirmou que o fenômeno estaria ocorrendo em Springfield, Ohio. Usuários “confirmaram” a alegação, especificando que imigrantes haitianos estariam sequestrando os animais das casas para devorá-los, e saqueando parques de vida selvagem. Tanto a polícia quanto autoridades de Ohio negaram o boato – o que não impediu as fake news de continuarem seu ciclo pelos canais de ultra e extrema direita.

4. Macron não teve um caso homossexual num passeio de barco

Contas de redes sociais em idioma georgiano e russo divulgaram um vídeo em que o presidente francês, Emmanuel Macron, supostamente beijava um homem num barco. Embora o político tenha, de fato, feito uma excursão aquática no verão de 2024, de que foram partilhadas imagens online, o beijo é obra de inteligência artificial (IA). Como se nota, por exemplo, pelo movimento antinatural do braço do suposto parceiro do beijo.

Essa não foi a única notícia falsa envolvendo a sexualidade do mandatário francês: também circulou um vídeo em que ele estaria dançando numa boate gay, na década de 80. Porém Macron não consta nos vídeos originais: seu deep fake foi acrescentado a posteriori. Além disso, o político seria jovem demais na época para dançar numa casa noturna.

5. Zelenski não comprou a Mercedes de Hitler

O presidente da Ucrânia, Volodimir Zelenski, tem sido igualmente alvo de difamação online. A narrativa é que sua família estaria comprando artefatos históricos caríssimos, tais como Highgrove House, a residência do rei Charles do Reino Unido; ou um carro esportivo de 1 milhão de dólares.

Mas em 2024 a desinformação alcançou um novo patamar: o chefe de Estado ucraniano teria também comprado a Mercedes do líder nazista Adolf Hitler por 15 milhões de dólares. Os posts se proliferaram logo depois de os EUA anunciarem um auxílio adicional de quase 8 bilhões de dólares à Ucrânia, em sua luta contra o invasor russo. Contudo, uma pesquisa na internet revela que o veículo foi fotografado numa exposição de automóveis clássicos em 2014.

6. Tom Cruise não participou de um documentário sobre os Jogos Olímpicos

Os Jogos Olímpicos de Paris foram também objeto de fraudes digitais. Alegou-se que o ator americano Tom Cruise teria estrelado um documentário da Netflix sobre o assunto. Mas o protagonista era um deepfake, assim como o próprio documentário, que a Netflix jamais produziu. Segundo especialistas em segurança da Microsoft, tratou-se de uma peça de desinformação de fabricação russa, forjada para desacreditar os Jogos e o Comitê Olímpico Internacional.

7. Político indiano não se ergueu dos mortos

No assim chamado “super ano eleitoral”, além dos EUA e da União Europeia, também a Índia foi às urnas. Pouco antes do pleito, emergiu um vídeo em que o político Muthuvel Karunanidhi incitava os jovens a se envolverem. Só que o veterano chefe de governo do estado de Tamil Nadu, no sul indiano, está morto desde 2018. Sua “ressurreição” foi um mero truque de IA.

8. Não houve cantos pró e nem anti-Putin na Euro 2024

Durante o Campeonato Europeu de Futebol da UEFA de 2024, divulgaram-se dois vídeos em que torcedores romenos entoam palavras de ordem pró e contra Vladimir Putin. A história foi facilmente desmentida com uma comparação das gravações originais do dia.

9. Helicóptero do presidente iraniano não foi abatido por laser espacial

Quando caiu o helicóptero levando o presidente do Irã, Ebrahim Raisi, e seu ministro do Exterior, Amir Abdollahian, usuários da plataforma X alegaram que a culpa era de um laser espacial. Embora a tecnologia laser esteja avançando rapidamente na indústria militar, especialistas asseguram que ainda não existe uma arma capaz de derrubar um helicóptero a partir do espaço.

10. Ninguém manipulou o furacão Helene

Na meteorologia, ninguém (ainda) manda – pelo menos não diretamente. Por ocasião da passagem do furacão Helene pelos EUA, certos internautas estavam convencidos de que ele fora manipulado e conduzido numa certa direção. Contudo, além da total falta de provas de tal façanha, ainda não existe a tecnologia capaz de manipular um furacão.