Uma lei de 1966 e liminares recentemente conquistadas estão permitindo que dentistas se aventurem no ramo dos procedimentos estéticos realizados na face. Trata-se de técnicas de correção de imperfeições no nariz, sobrancelhas, pálpebras, orelhas, rosto e pescoço. Ao se falar em dentistas, a primeira ideia que vem à mente é que são profissionais essencialmente relacionados à resolução de problemas na boca. Dessa forma, por que se envolver com atividades que não condizem com seus conhecimentos? “Essa é uma visão errônea, esses odontólogos têm a plena capacidade para fazer tais tratamentos”, afirma Thiago Marra, cirurgião plástico e presidente da Associação Brasileira dos Profissionais de Saúde (Abrapros). Ele oferece cursos de cirurgia estética direcionados a dentistas: “Já ensinei esse o procedimento a mais de trezentos dentistas”. Marra é o principal defensor de que eles se aperfeiçoem na área da medicina plástica — foi ele quem entrou na Justiça para garantir que alguns odontólogos pudessem realizar os procedimentos.

“Atendo mais de duzentos pacientes por mês e 99% deles saem do consultório satisfeitos”, afirma Michele França, especialista em ortopedia facial e em harmonização orofacial. Ela assegura que, se o cirurgião bucomaxilofacial está apto a fazer cirurgias de alta complexidade dentro de um hospital, não haveria problemas na execução de cirurgias minimamente invasivas em seu consultório. Em outras palavras, Michele quer dizer que há por parte da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica (SBCP) uma reserva de mercado. O que a associação rebate. “Dentistas não tem conhecimento técnico e nem estrutura nos consultórios suficientes para a prática”, diz José Octávio Gonçalves de Freitas, presidente da SBCP, em São Paulo. Ele argumenta que no consultório dental não há aferição médica prévia para prevenir complicações. “Somente médicos podem avaliar”, reitera. Apesar de proibir os dentistas de realizarem alguns procedimentos estéticos, o Conselho Federal de Odontologia, em nota, ressalta que a classe já trabalha com complexidade cirúrgica, estética e funcional. O imbróglio que envolve toda a situação só vai ser solucionado na Justiça.