As clássicas interpretações do Brasil não dão mais conta da complexidade da sociedade contemporânea. Ficaram datadas. Representaram um momento de transição de um país rural para um país urbano. Casa Grande e Senzala (1933), Evolução Política do Brasil (1933) e Raízes do Brasil (1936) — poderia ser acrescentado Os donos do poder (1958) — registraram um Brasil que desapareceu especialmente à partir da redemocratização em 1985.

A intensificação do processo de industrialização, a ocupação do centro oeste, os últimos grandes deslocamentos populacionais internos e a formação das metrópoles deram ao Brasil uma nova formação, muito mais complexa do que a da primeira metade do século XX.

Esse novo País está à espera de explicações, de interpretações, de desenhos — mesmo que imaginários — do que
é e do que será o Brasil. A existência de grandes cidades — todos elas marcadas pela desorganização espacial, social e cultural — é um enorme desafio analítico. Como sabermos para onde irão se não conseguimos compreendê-las?

O Brasil mantém suas desigualdades regionais — mas qual país não as têm? — e sociais. Combina setores econômicos avançados com outros atrasados. Nas cidades, diferentes tempos convivem no mesmo espaço urbano. A velha contradição dos dois brasis — basta recordar o livro de Jacques Lambert — se mantém presente, só que potencializada pelas contradições de um sistema econômico-político anacrônico.

As antigas identificações nacionais estão desaparecendo. Hoje, nos morros cariocas, o funk — e, em menor escala, o rap — ocupam o lugar do samba. O carnaval perdeu sua importância. A cordialidade está sendo substituída pela intolerância.

A violência passou a ocupar um lugar privilegiado no dia a dia como nunca na nossa história. As chacinas foram se banalizando e territórios liberados, controlados pelo crime organizado, são uma constante e encarados como fatalidade. A política foi tomada pelos inescrupulosos. Não há paralelo histórico e nem cabe — como é hábito entre aqueles que comungam do senso comum — imputar à herança ibérica as nossas mazelas. É uma questão que foi se agravando, paradoxalmente, após a redemocratização. E o pensamento político? Há pensamento político? Em meio a tudo isso, as universidades se mantêm como arcaicas repartições públicas.