20/04/2018 - 18:00
Com seu processo analisado pela “câmara de gás”, como é conhecida a 1ª Turma do Supremo Tribunal Federal devido suas posições geralmente duras com os denunciados, o senador Aécio Neves (PSDB-MG) não ficou surpreso quando, na terça-feira 17, se tornou réu, sob a acusação de ter recebido irregularmente R$ 2 milhões do dono da JBS, Joesley Batista. Mas, embora já esperasse a decisão, Aécio ainda não definiu exatamente quais serão seus próximos passos, tanto política como juridicamente. Como senador, ele tem direito a foro privilegiado e enquanto estiver exercendo o mandato terá o processo tramitando no STF. Se perder ou não disputar a eleição em outubro, o mineiro perde o privilégio e a ação deverá ser remetida à primeira instância da Justiça Federal. Dificilmente, porém, irá para Curitiba, onde atua o juiz Sergio Moro. “Como o caso não envolve a Petrobras é pouco provável que esse processo siga para Curitiba”, disse à ISTOÉ um dos assessores do STF na quarta-feira 18. Oficialmente, o senador admite que sua única certeza é a de que irá priorizar todo o tempo possível para se defender. “Terei agora a oportunidade que não tive até aqui para poder provar de forma clara e definitiva a absoluta correção dos meus atos”, disse Aécio tão logo tomou conhecimento da definição do STF.
Pressão tucana
Assessores e políticos ligados ao senador mineiro avaliam que o fato de Aécio ter se tornado réu pouco irá interferir em sua performance eleitoral. Alegam que a denuncia e as gravações revelando os diálogos mantidos com Joesley Batista “já provocaram o estrago” quando divulgadas, em maio do ano passado. Não foi esse, porém, o entendimento de parte graúda do PSDB. Na própria terça-feira, tucanos emplumados declararam que não usariam a campanha para defender Aécio e que seria melhor para o partido que ele ficasse fora da disputa eleitoral, principalmente a um cargo majoritário em Minas, o segundo maior colégio eleitoral do País. Um dos mais veementes defensores dessa tese foi o ex-governador de São Paulo e pré-candidato à Presidência, Geraldo Alckmin. “O ideal é que Aécio não seja candidato”, disse Alckmin. O presidente do PSDB também lamentou a decisão do STF e o destino de Aécio. “É muito ruim. Mas é o que se faz numa democracia: o Judiciário toma as medidas que tem que tomar, a pessoa se defende e é julgada”. No Senado, Aécio também passou a sofrer pressão de seus pares. “Temos que separar o público do privado e esse caso é absolutamente particular. Tem a ver com Aécio e não com o partido”, disse o senador Roberto Rocha (PSDB-MA).
“Terei oportunidade de provar a absoluta correção dos meus atos” Aécio Neves, senador (PSDB-MG)
Na contabilidade do PSDB mineiro, Aécio terá dificuldades para se reeleger como senador. Porém, é quase garantido o êxito de uma candidatura a deputado federal. Argumentam que seria uma maneira de Aécio assegurar o foro privilegiado e manter seu processo no STF. Os advogados que têm assessorado o senador, no entanto, não são unanimes quanto às vantagens de se manter o caso no Supremo. Sustentam que no STF o processo será acompanhado de perto pela mídia e haverá grande pressão para que o julgamento seja célere. Além de, em caso de uma decisão negativa, haver poucas possibilidades de recursos. De acordo com esse raciocínio, se Aécio não disputar a eleição, o processo será remetido à primeira instância e longe do juiz Sergio Moro poderá se arrastar anos a fio. Em caso de condenação haveria uma série de recursos e o caso acabaria chegando ao STF, mas em prazo a perder de vista.