O jornalismo, uma forma minimalista de ler e dizer o mundo se converteu em atividade fundamental das sociedades modernas, pois além de ser uma instituição informativa, selou seu papel de formação da esfera pública por meio da opinião qualificada que alcançou vários tópicos de interesse da vida coletiva. A crítica cultural tornou-se, assim, um departamento importante nas páginas do jornal no século XX, constituindo-se em um balizador importante da produção e circulação dos bens simbólicos, principalmente daqueles erigidos no território da indústria cultural.

No entanto, com a mudança de paradigma da radiodifusão (onde predominava um modelo de negócio baseado na distribuição de informação) para o da conexão (em que vigora o modelo calcado na circulação de informação), o jornalismo perde força como mediador exclusivo dos movimentos do mundo. A crítica cultural torna-se triste eloquência que, frequentemente, deixa-se fagocitar pela lógica algorítmica.

O jornalismo perdeu a sua força como mediador exclusivo dos movimentos sociais no mundo

São vários os episódios que ilustram a caricatura que se tornou essa área do jornalismo, chegando a um nível de exorbitância inflacionária. A título de ilustração, destaco aqui o caso recente da análise da cobertura do carnaval, cujo alvo de uma “crítica” enviesada, irradiada por uma das principais revistas brasileiras, foi à jornalista Maju Coutinho.

Na condição de apresentadora dos desfiles do grupo especial do Rio de Janeiro, pesaram sobre Maju críticas ácidas divulgadas por jornalista que requentou “matéria”, desprovida de análises consistentes, em um curto espaço de tempo. No texto do colega de profissão, constava apenas um apanhado de depoimentos do twitter sempre com o mesmo viés. Claro está que, em sendo um espetáculo de grande visibilidade, a transmissão do Carnaval sempre entra no radar do público que avalia, critica, opina, aprova, desaprova. A questão, definitivamente, não é essa. Longe disso.

As críticas a Maju Coutinho revelaram, antes, a miséria de parte do jornalismo brasileiro que se apequena ao abrir mão de um dos seus princípios fundantes: favorecer a construção de uma esfera pública qualificada, considerando aquilo que consolida a sociedade da transparência. Reprisar uma crítica que não é crítica apequena o profissional e coloca em xeque a seriedade do dito. A avaliação do desempenho de Maju Coutinho na apresentação dos desfiles do carnaval carioca reclamou por uma crítica distante da picuinha dos seus anônimos e atomizados das redes sociais, que acabaram dando o tom persecutório à matéria. O texto apenas serviu para prestar um desserviço aos amantes
do Carnaval e ao bom jornalismo.