17/05/2021 - 20:42
MASP e Itaú Cultural estão juntos em uma grande exposição da artista contemporânea brasileira Beatriz Milhazes (Rio de Janeiro – 1960), com 170 obras entre pinturas, gravuras, colagens, esculturas e desenhos da artista. Batizada de “Avenida Paulista”, a exposição faz referência ao endereço das duas instituições que organizam em conjunto a mostra e, também, é nome de uma obra inédita produzida especialmente para a ocasião.
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Essa é a maior exposição do trabalho da artista e ela só foi possível graças a um trabalho colaborativo entre as equipes do MASP e do Itaú Cultural que atuaram sob a curadoria de Ivo Mesquita, Adriano Pedrosa e Amanda Carneiro. Os curadores acreditam que, depois de tanto tempo de quarentena, entrar em contato com a arte pode abrir outras perspectivas para o público e ampliar horizontes, conhecendo a técnica “Monotransfer”, criada por Milhazes em 1989 e que confronta pintura, gravura e colagem.
O Itaú Cultural dedicou três andares para apresentar 79 obras, sendo três delas inéditas: “Havaí em Amarelo Vibrante”, “Cor de Pele” e “Giro Horizontal”. Apresenta também um minidocumentário sobre trajetória da artista, com trabalhos mais antigos, como “Sabor de Cereja” (2005), e recentes produções como “Dovetail”. Trata-se de uma gravura com quase dois metros de comprimento e que reúne diversas linguagens artísticas. A obra é uma serigrafia em madeira de topo e com folha de ouro, impressa na Durham Press – ateliê de gravação da Pensilvânia (EUA) que elabora a maior parte de seus trabalhos.
No MASP, a mostra está inserida na programação de um ano de exposições e programas públicos dedicados ao relato das histórias da dança. Por conta do coronavírus, as apresentações de dança que estavam previstas tiveram de ser adiadas, mas isso não tira o brilhantismo do MASP. Pelo contrário: o museu destaca, de forma muito transparente, as adaptações que fez para garantir a segurança para os visitantes. No museu, a exposição ocupa o segundo subsolo e reúne 50 pinturas de grandes dimensões em estruturas autoportantes, possibilitado, assim, a visualização das obras pela frente e pelo verso. Do teto, pende a escultura Gamboa (2010-20), que poderá ser parte do cenário de apresentações da Márcia Milhazes Companhia de Dança, desenvolvido pela artista com sua irmã.
No mezanino do MASP, estão 12 pequenas pinturas, em uma atmosfera mais intimista que serve de caminho para a galeria do primeiro subsolo, onde mais pinturas estão expostas junto a uma série de sete desenhos inéditos chamada “Aleluia” e que foi produzida durante a quarentena. Crianças foram convidadas para atividades artísticas antes da pandemia e as colagens, produzidas nas oficinas do Club Infantil de Arte do MASP, estão sendo apresentadas pelo museu.
Oscilando entre abstração e figuração, geometria e forma livre, as obras de Milhazes são densas, multicoloridas e cheias de camadas de cores, tintas, papéis e significados. Cada forma surge e se desenvolve a partir de um universo específico, podendo perdurar por décadas no repertório da artista, transformando-se ao longo dos anos ou marcando um determinado período. As fontes são diversas— do modernismo ao barroco, da chamada arte popular à cultura pop, da moda à joalheria, da própria história da arte à natureza, da arquitetura à abstração.
Beatriz Milhazes me disse que esse momento é emocionante para ela por apresentar a mais completa retrospectiva de seu trabalho, por ter dois curadores que a acompanham desde a década de 90 e por reunir dois importantes espaços de arte com uma visão única sobre seu percurso artístico. Suas obras mostram uma linguagem própria, que mistura a história do pensamento pictórico da Europa com o contexto brasileiro, incluindo referências múltiplas como Tarsila do Amaral (1886-1973), Sonia Delaunay (1885-1979), Bridget Riley e Ione Saldanha (1919-2001), para mencionar algumas. Sua paixão por artes populares, indígenas e festivas (como o Carnaval) está presente em toda a exposição, cujo interesse central está no humano e na expressão da sensibilidade, da razão e da poesia.
Sempre em contínua evolução, Milhazes diz que desenvolveu sua linguagem admirando o trabalho artístico de Tarsila do Amaral (pela forma como explora com liberdade no contexto brasileiro de urbano e rural, sempre integrando com pensamentos modernistas europeus), Henri Matisse (pelo interesse na arte decorativa e pelo universo cromático de contrastes de sua obra), Piet Mondrian (pela estrutura rígida que desenvolveu em suas composições geométricas e pelos brilhantes cruzamentos de verticais e horizontais) e Fernando Pinto, Carnavalesco da Mocidade Independente de Padre Miguel (pela liberdade criativa ilimitada, rompendo padrões sem medo).
O ano promete boas surpresas. A artista terá um livro publicado pela Taschen, uma exposição individual em setembro no Long Museum (Shangai – China) e estará na Pace Gallery (New York) em março de 2022. Beatriz Milhazes concorda comigo quando falo que a “arte tem o poder de transformar as pessoas”. Portanto, não deixem de visitar o MASP e o Itaú Cultural até 30 de maio. O site das duas instituições indica direitinho como reservar ingressos, mostra os cuidados para a visitação segura e apresenta um tour virtual. Se tiver uma boa história para compartilhar, por favor lembrem de mim. Aguardo sugestões pelo Instagram Keka Consiglio, Facebook ou pelo Twitter.