Nosso satélite ganhou cores, muitas cores. E virou um mapa superdetalhado, aliás, o Mapa Geológico Unificado da Lua. Resultado de anos de pesquisa, ele reúne informações e imagens coletadas durante as missões espaciais da Apolo, realizada entre os anos 1960 e 1970, e observações mais recentes, entre 2007 e 2009, obtidas por sondas que orbitam a superfície lunar. O estudo teve algumas versões até a imagem final: dois globos dispostos um ao lado do outro, que exibem uma face relativamente já conhecida, explorada em missões espaciais anteriores (à esquerda), e o chamado lado escuro ou oculto da Lua (à direita).

A façanha inédita de mapear completamente toda a superfície e classificar o território rochoso geologicamente foi realizada por cientistas e cartógrafos do Serviço Geológico dos Estados Unidos (USGS) em parceria com colegas da Nasa e do Instituto Lunar e Planetário. Os especialistas elaboraram também uma descrição unificada para o estudo das camadas rochosas lunares (estratigrafia), o que permite descobrir a idade das rochas que formam a Lua, além da avaliação visual. Até a realização deste mapa, os dados que balizavam interpretações e estudos sobre a superfície lunar, e que constavam de mapas anteriores, eram considerados poucos consistentes.

Os resultados deste mapa servem para distintas finalidades, explica o professor Roberto Costa, do Instituto de Astronomia e Geofísica da USP. “Para especialistas na evolução do sistema Terra-Lua, as imagens vão permitir modelar com mais precisão como se deu a formação e evolução da Lua e sua interação com a Terra”, afirma. Para especialistas na superfície lunar, os dados permitem detalhar com precisão as características de diferentes regiões da Lua, em preparação para futuras missões de exploração, sejam elas tripuladas ou não. “Mesmo questões que até agora eram puramente especulativas tais como a possível extração de minerais lunares, agora poderão ser examinadas com muito maior realismo”, diz Costa.

Além de reunir informações vitais para novos estudos científicos, o mapa encanta o público leigo com uma superfície lunar colorida e acompanhada de explicações de fácil compreensão: cada cor identifica uma formação e sua idade na irregular superfície da Lua, de acordo com as erosões sofridas. Assim, os tons mais terrosos correspondem às regiões mais montanhosas, enquanto vermelhos e roxos sinalizam formações geológicas de origem vulcânica. A irregularidade, segundo os especialistas, é prova de que o satélite sofreu diversos impactos ao longo de sua existência. O material digitalizado está disponível na internet (www.usgs.gov.) e pode ser baixado gratuitamente. “Creio que para o público em geral, o mais interessante destes resultados é demonstrar que até a Lua, nossa vizinha do espaço, ainda tem muito a revelar”, avalia Costa.

Porto lunar

Para ele, outros pontos específicos fazem com que seja muito importante conhecer em detalhes o nosso satélite para além de sua origem. A teoria mais aceita é de que a Lua tenha surgido há cerca de 4,5 bilhões de anos, quando a Terra se chocou com outro planeta. Os detritos da colisão, girando na órbita terrestre, teriam se acumulado numa massa única, a Lua. Costa destaca que por sua proximidade, pela ausência de atmosfera e por sua baixa gravidade (1/6 da Terra), a Lua tem a vocação natural de ser um “porto” para exploração do sistema solar. “Talvez não nessa década ou na próxima, mas se pensarmos em 50 anos ou até o fim deste século, é possível imaginar assentamentos permanentes na Lua abrigando indústrias que requeiram ausência de atmosfera e bases para exploração do sistema solar”, diz Costa. E para que tudo isso aconteça, é indispensável começar com um mapa geológico atualizado e preciso.