Ao assumir o comando do País com o afastamento de Dilma Rousseff, o ainda presidente interino Michel Temer (PMDB) fazia questão de deixar claro aos interlocutores e à sociedade de que precisaria adotar medidas amargas para tirar o Brasil do atoleiro em que se encontrava depois de 13 anos de gestões petistas. Mas, ao mesmo tempo em que desenhava um horizonte cinzento, o presidente empunhava uma bandeira de forte apelo popular. Prometia reduzir drasticamente o número de ministério e colocar fim à farra do aparelhamento promovido pelo PT na máquina pública, extinguindo boa parte dos mais de 107 mil cargos de confiança e funções gratificadas. Depois de seis meses no comando do Palácio do Planalto, o que se constatou, no entanto, é que o presidente ainda não cortou as benesses. Pelo contrário, o número de cargos de confiança teria saltado de 107.121 para 108.514. Um dado que choca com o discurso de austeridade fiscal da equipe econômica e demonstra as contradições do governo, que pede à população que compreenda reformas como a do teto dos gastos públicos e assimile mudanças na Previdência, mas demonstra letargia a cumprir o seu próprio dever de casa. Ações como essas acabam dando discurso fácil para a oposição.

No Planalto, é unanime a avaliação de que não houve nenhuma mudança de planos e que os cortes nos cargos comissionados serão feitos. A explicação apresentada, incialmente, é que num primeiro momento precisou ser levado para o governo o novo time de Temer, antes mesmos que todos os remanescentes dos governos anteriores fossem cortados. A previsão é que nós próximos meses a diminuição no número de cargos de confiança já seja constatada. “Precisamos trocar o pneu com o carro em movimento”, disse um ministro palaciano na quarta-feira 19.

Capital em risco

A tendência é que de fato os cortes venham a ocorrer. A avaliação feita entre os mais próximos auxiliares do presidente Michel Temer é a de que a redução do aparelhamento promovido pelo PT poderá acelerar o aumento da popularidade do presidente, o que é apontado como condição importante para a aprovação das medidas duras exigidas para a recuperação da economia. Trata-se de uma missão nada fácil. Na última semana, pesquisa realizada pelo instituto MDA a pedido da Confederação Nacional do Transporte (CNT) mostra que um pequeno aumento na popularidade de Temer, que saltou de 11% para 14%. Um número pouco comemorado. A mesma pesquisa aponta para uma desaprovação ao desempenho pessoal de Michel Temer, que cresceu de 40,4% para 51,4%. Sua gestão é considerada boa por apenas 2,1% dos entrevistados. Na prática, apenas duas em cada cem pessoas têm mostrado satisfação com a forma de Temer governar. Um resultado que faz o peemedebista amargar o título de chefe da segunda gestão mais impopular das Américas. Ele supera, segundo ranking da consultoria mexicana Mitofsky, somente o presidente da Costa Rica, Luis Guillermo Solís. “É verdade que esse não é um problema desse governo. A população está há mais de um ano insatisfeita com os rumos do País”, comentou Marcelo Souza, diretor executivo do Instituto MDA. Os auxiliares de Temer acreditam que os números começarão a mudar com a melhora da economia, que já dá respostas como a queda da inflação, por exemplo. No entanto, ninguém no Planalto discorda de que quando o governo puder divulgar uma expressiva redução dos cargos comissionados e uma ruptura com as mamatas concedidas aos petistas nos últimos anos, a popularidade de Temer aumente rapidamente. “Se eu ficar impopular e o Brasil crescer, eu me dou por satisfeito”, tem dito o presidente em eventos públicos. Na verdade, porém, o peemedebista sabe que se o Brasil crescer sua aprovação crescerá junto.

Se o Michel Temer já tivesse enfrentado o aparelhamento petista,
a sua popularidade seria mais alta

RECADO DAS URNAS

Nos bastidores, políticos da base aliada do governo federal não escondem o receio de virem a perder votos em seus redutos em razão das medidas amargas que terão de aprovar no Congresso Nacional. Apostam, no entanto, que elas possam trazer resultados concretos antes das próximas eleições. As conquistas do PMDB e dos aliados do presidente Michel Temer na disputa municipal indicam que ainda há tolerância do eleitor com o Palácio do Planalto, mas isso, analisam os especialistas, tem prazo de validade. Para evitar mais problemas, o presidente deve fazer o dever de casa mais acelerado.

Foto: Beto Barata/PR