Tenente-coronel da Alemanha nazista e uma das principais peças do Holocausto, Adolf Eichmann chocou o mundo em seu julgamento, com os testemunhos das suas vítimas sobreviventes dos campos de extermínio e todo horror vivido por elas durante a 2ª Guerra Mundial. Passados setenta anos, uma série de entrevistas volta a chocar o mundo com as crueldades do empregado de Hitler. Horas de gravações feitas quando Eichmann vivia escondido na Argentina após a 2ª Guerra, desaparecidas por décadas no arquivo do governo alemão, reforçam agora o lado mais sombrio e sarcástico do nazista.

Áudios com a própria voz do tenente, que na época de seu julgamento, em 1961, poderiam ter sido usados contra ele e foram negados aos procuradores israelenses, serviram de base para a série intitulada “Confissões do diabo: as gravações perdidas de Eichmann”, veiculada no mês passado em Israel. “Com o acesso a estas gravações podemos ter uma ideia do que se passava na mente de um dirigente nazista. O racismo e o totalitarismo mostram claramente que não era apenas um burocrata”, declarou Fernando Lottenberg, comissário da OEA para o monitoramento e combate ao antissemitismo.

SARCASMO Eichmann, segundo da direita para a esquerda, sorri enquanto militares alemães cortam o cabelo de prisioneiro judeu (Crédito:AFP PHOTO)

As fitas foram gravadas por Willem Sassen, jornalista holandês, oficial da Gestapo e propagandista durante a 2ª Guerra. Enquanto estava escondido em Buenos Aires, com Eichmann, fizeram as gravações para a publicação de um livro póstumo. Após o julgamento, Sassen vendeu suas transcrições para a revista Life, que publicou trechos resumidos. Depois da execução de Eichmann, em 1962, as fitas foram adquiridas por uma editora europeia e depois vendidas para uma empresa que ficou no anonimato e entregou o material para os arquivos federais da Alemanha.

A série traz Eichmann falando atrocidades e demonstrando como não se importava com a vida ou morte dos judeus enviados para Auschwitz. “Se tivéssemos matado 10,3 milhões de judeus, diria com satisfação: ‘Bom, destruímos um inimigo’. Então teríamos cumprido nossa missão”, disse ele com desprezo, em uma das gravações.Em outro trecho, o nazista falou que os judeus aptos para o trabalho tinham que trabalhar, e os que não estavam aptos deveriam ser enviados para a “solução final”, como se referia à execução sumária da comunidade judaica. “Agora fica mais clara a dimensão pessoal —de alguém que acreditava e endossava as decisões. Sabia o que fazia e participou voluntariamente do genocídio”, completa Lottenberg.