As chacinas de Cláudio Castro

As chacinas de Cláudio Castro

Em cerca de 14 meses, pouco mais de um ano, sob a gestão do governador Cláudio Castro (PL), que busca se reeleger este ano, ocorre a terceira chacina das cinco mais letais da história do estado do Rio de Janeiro. A última chacina aconteceu na manhã desta quinta-feira, 21, no Complexo do Alemão, na zona norte do Rio de Janeiro, ocasionando na morte de 19 pessoas. Juntas as três chacinas provocaram a morte de 72 pessoas.

De acordo com dados do Geni (Grupo de Estudos de Novos Ilegalismos) da UFF (Universidade Federal Fluminense), as cinco operações com maior letalidade policial da história do Rio são: a operação realizada no Jacarezinho em maio do ano passado com cerca de 28 mortos; em segundo lugar, está a ação policial ocorrida em maio deste ano no Complexo da Penha, na Vila Cruzeiro, com 24 mortos. Na terceira posição está a operação realizada na Vila Operária em Duque de Caxias, em janeiro de 1998, contando com 23 mortos. E em quarto lugar, empatadas, estão as duas operações realizadas no Complexo do Alemão em junho de 2007 e agora em julho de 2022, ambas com 19 mortos.

Sobre, a última ação policial realizada no Complexo do Alemão, Castro se manifestou no Twitter e lamentou somente a morte do policial, não mencionando as moradoras que foram mortas durante a operação e afirmou que não iria retroceder nas ações com o objetivo de “garantir paz e segurança” à população do Rio.

“Toda vez que um policial é assassinado em combate é um pedaço de cada um de nós que morre junto. É uma derrota da sociedade. Vou continuar combatendo o crime com todas as minhas forças. Não vamos recuar na missão de garantir paz e segurança ao povo do nosso estado”, disse Castro, sem lamentar a morte dos inocentes nas operações.

Castro foi eleito como vice de Wilson Witzel, o qual tinha como postura comemorar a morte de bandidos com “tiro na cabecinha” ou o “abate” de pessoas suspeitas com envolvimento com o tráfico. Castro adota a mesma postura de seu antecessor, endossando as chacinas policiais realizadas em seu governo.

O atual governador do estado do Rio de Janeiro assumiu o cargo interinamente em agosto de 2020 e foi efetivado em abril de 2021. E manteve as forças policias sem controle civil. Segundo o pesquisador Daniel Hirata, coordenador do Geni/UFF, o encorajamento à violência policial é a principal marca na gestão de Castro. Hirata, afirma que o governo atual é “negacionista” perante a questão da criminalidade.

“A gestão de Cláudio Castro é particularmente letal por estimular a letalidade policial. A enorme quantidade de chacinas em sua gestão é sempre acompanhada de justificativas. Você tem dezenas de pessoas mortas e o governador sempre se coloca justificando essas ações brutais das polícias, portanto contra o controle da atividade policial, que é o que caracteriza a atuação policial em regimes democráticos”, disse Hitara.

O pesquisador disse ainda que “há um negacionismo com relação a esse que é o principal problema da área de segurança pública no Rio. A letalidade policial não está presente nem no plano de segurança pública apresentado por ele, nem no principal projeto do governador, que é o Cidade Integrada”, afirma Hirata.

Ocorreram 76 chacinas policiais no Estado, resultando em 349 mortes, desde que Castro assumiu o posto de governador do estado do Rio, totalizando uma média de 4,6 mortos por chacina. Superando todas as gestões anteriores na média de mortos. De acordo com Pablo Nunes, coordenador adjunto do Cesec (Centro de Estudos de Segurança e Cidadania), da Universidade Cândido Mendes), a repetição de ações com dezenas de mortos demonstra que o governador não possui nenhuma estratégia para a segurança pública além da brutalidade policial.

“Essas ações policiais com dezenas de mortos têm se tornado uma marca dos anos de Cláudio Castro à frente do governo do estado. Não existe política pública de segurança, não existem metas ou objetivos traçados, nem preocupação com essa alta letalidade policial. Todo esse processo mais uma vez demonstra quanto as policias têm realizado suas ações a seu bel prazer, sem nenhum tipo de controle, estratégia ou inteligência.”

“É mais uma ação de vingança em resposta á morte do agente durante a manhã de ontem. Mais uma vez se demonstra não haver nenhum respeito á decisão do STF na ADPF 365. Essa letalidade policial em nenhum lugar do mundo seria identificada como parte de uma ação bem-sucedida. É um cenário em que todos perdem”, continuou Nunes.

Observa-se que o governador fluminense é adepto de uma ideologia de extermínio da população das favelas do Rio de Janeiro, onde ele de fato não se importa com a perda de vidas inocentes de moradores, em operações policiais, que são necessárias e justificáveis para segundo ele, “garantir paz e segurança” para a população do Rio. Não se importando em começar verdadeiras guerras para alcançar esta tão almejada paz.