RECORDE Tela “nº 7”, de Mark Rothko, saiu por US$ 82 milhões: valorização (Crédito:ANGELA WEISS)

Os negócios com arte estão altamente aquecidos e a expectativa é que essa tendência se mantenha. Além de uma oferta de obras incríveis e cobiçadas, há um ambiente comercial favorável que indica um interesse revitalizado dos colecionadores pelos antigos mestres da pintura, artistas contemporâneos e também pelos criadores jovens e emergentes que criam NFTs (tokens não fungíveis). Soma-se a isso o surgimento de novos públicos compradores e uma ambição redobrada de investidores asiáticos. Em 277 anos de existência, a casa de leilões Sotheby’s nunca havia faturado tanto. Em 2021, em plena pandemia de coronavírus, bateu todos os recordes de vendas de sua história, movimentando fabulosos US$ 7,3 bilhões (R$ 40 bilhões), valor 71% superior ao do ano anterior. Outra referência do mundo das artes, a Christie’s, arrecadou US$ 7,1 bilhões (R$ 39 bilhões) no ano passado, seu melhor resultado desde 2016. Somente em negócios privados diretos, a empresa ganhou US$ 1,7 bilhão, 12% mais do que em 2020 e 108% mais do que em 2019. A Sotheby’s informou que 39% dos clientes que adquiriram suas obras e objetos nunca haviam comprado da empresa antes e metade das vendas acima de US$ 5 milhões foram realizadas para milionários da Ásia. “Os clientes responderam a uma experiência digital e física perfeita”, disse a empresa.

Uma das maiores tacadas da Sotheby´s foi a venda, em novembro, da Coleção Macklowe, colocada no mercado depois do divórcio do casal formado pelo empresário do ramo imobiliário Harry Macklowe e a curadora honorária do Museu Metropolitant Museum, Linda Burg. Em um só dia, a casa leiloeira movimentou US$ 676 milhões. O valor ultrapassou a expectativa máxima de arrecadação, que oscilava entre US$ 439,4 milhões e US$ 618,9 milhões. Os maiores preços foram alcançados com a tela “nº 7”, de Mark Rothko, arrematada por US$ 82 milhões, e com o quadro “nº 17”, de Jackson Pollock, comprado pela bagatela de US$ 61 milhões, o maior valor já pago por uma obra do artista. O maravilhoso acervo, composto por 35 pinturas e esculturas, incluía também nomes como Alberto Giacometti, Willem de Kooning, Agnes Martin, Andy Warhol, Frida Khalo e Claude Monet, com seu “Coin du bassin aux nymphéas”, pintado em 1918. A Coleção Macklowe possui outras 30 obras que serão leiloadas em maio. No caso da Christie’s, a maior venda realizada em 2021 foi a do quadro “Femme assise près d’une fenêtre” (“Mulher sentada perto de uma janela”), que rendeu US$ 103,4 milhões em maio

CLÁSSICO O quadron“Coin du bassin aux nymphéas”, de Claude Monet: joia impressionista (Crédito:Angela Weiss)

Por conta da pandemia, as casas de leilões tiveram que se adaptar em 2020 diante da impossibilidade de realizar eventos presenciais, o que levou a um represamento das vendas, e fortaleceram seus laços com o mundo digital. Um efeito disso, segundo a Sotheby’s, foi a expansão do acesso “a um número sem precedentes de participantes em leilões nos últimos 12 meses”. O que parecia uma vulnerabilidade acabou se transformando em vantagem. Na mesma onda tecnológica, foram fortemente impulsionadas as transações privadas com os NFTs, tokens criptográficos que representam digitalmente uma obra única. O mercado desses dispositivos ganhou credibilidade e decolou. Só a Christie’s arrecadou US$ 150 milhões com esses tokens. Desde a venda da obra “Everydays”, uma colagem de 5 mil imagens digitais realizada pelo artista Mike Winkelmann, conhecido com Beeple, que rendeu US$ 69,3 milhões, a empresa comercializou mais de 100 NFTs. A idade média dos compradores desse tipo de arte é de 42 anos, faixa etária dos chamados millennials, e três quartos dos compradores eram novos na Christie’s. A Sotheby’s informou que, em 2021, vendeu mais de US$ 100 milhões em NFTs. Sua primeira experiência na modalidade aconteceu em abril com a comercialização de uma obra do artista cujo pseudônimo é Pak. O negócio rendeu US$ 16,8 milhões em um lançamento exclusivo que durou três dias. Com vários leilões importantes à vista e o desenvolvimento da compras online, a expectativa é que, em 2022, o acelerado ritmo de transações seja mantido.