Corria o ano de 1974 no bairro da Liberdade, em Salvador da Bahia. Os jovens Apolônio de Jesus e Antonio Carlos dos Santos, o Vovô, gostavam de tocar percussão e brincar no carnaval, mas eram proibidos de fazer parte do desfile principal por serem negros. Foi então que eles planejaram uma batalha — sem confete — para conquistar a folia: fundaram o Ilê Aiyê, que viria se tornar o primeiro bloco afro da Bahia. O batismo se deu no terreiro Ilê Axé Jitolu, da babalorixá Mãe Hilda, mãe de Vovô. Ele queria que o grupo se chamasse Poder Negro, mas Mãe Hilda escolheu “Ilê Aiyê” — “casa de todos”, em iorubá. “A gente criou o Ilê para ser frequentado só por negros”, diz Vovô à ISTOÉ. “Pensamos em afirmar nossas origens e não uma espécie de apartheid, como diziam.” O Ilê passou a brilhar nos desfiles, com fantasias inspiradas nos orixás e enredos com teor político, virou associação cultural e educativa. E conquistou o mundo. O bloco ganha agora a “Ocupação Ilê Aiyê”. A mostra é dividida nas quatro as cores do Ilê: preta, vermelha, amarela e branca, representando a pele negra, a luta pela libertação, a riqueza cultural e a paz. Itaú Cultural (SP), até 6/1/2019.

44 anos de história

Divulgação

Fundação (1972)

Em 1º de novembro, Apolônio e Vovô fundam em um terreiro de candomblé o primeiro bloco afro da Bahia

Tema e fantasia (1976)

No carnaval, é representado o primeiro tem sobre a África: os guerreiros Watusi. Pela primeira vez, o bloco usa tecidos pintados artesanalmente

Escola (1988)

Mãe Hilda funda uma escola de alfabetização, que inspirou outras ações de educação e inclusão social

Cadernos (1995-2018)

Lançados 24 cadernos de estudos sobre mulher, resistência negra e política