No vídeo nitroglicerina da reunião ministerial ficou claro por qual motivo Jair Bolsonaro defende que a população se arme e tenha direito à compra de quantidade irrestrita de munição. Ficou no ar, também, um cheiro de fascismo, de bolivarismo chavista e caudilhismo. Motivo: ele, Bolsonaro, está montando, no mais puro e acabado estilo autoritário, uma espécie de guarda pretoriana — exército pessoal para defesa de si e de seu governo. Tal engrenagem bolsonarista se traduz em uma ampla frente armada do tipo miliciana e paralela às polícias e Forças Armadas constitucionalmente constituídas. Isso é crime e qualquer semelhança com a Venezuela não é mera coincidência. Bolsonaro tem de ser enquadrado, assim, na dura Lei 7.170, que zela pela segurança nacional. Mais: Bolsonaro incitou à guerra civil porque governadores e prefeitos discordam de seus métodos contrários a quarentena: “o povo tá dentro de casa. Por isso eu quero (…) que o povo se arme! (…) Se tivesse armado, ia pra rua”.

Como todo caudilho, Bolsonaro escamoteia a realidade: falou que querem golpeá-lo e que o povo armado poderia defendê-lo, enquanto, a rigor, quem quer dar o golpe é ele mesmo. Igual inversão demagógica foi pregada, para darmos um exemplo histórico, por Benito Mussolini, o lider fascista italiano que em 1937 declarou: “só um povo armado é forte e livre”. Forte, é óbvio, para a defesa de Mussolini; livre, é claro, desde que defendesse Mussolini. O governo Bolsonaro, que se diz liberal, não tem nada de liberalismo. Tal ideologia defende o exercício da livre individualidade, e, por isso, dá aos cidadãos do bem o direito de se armarem para legítima defesa. O que Bolsonaro está promovendo é a formação de uma mílicia que inevitavelmente reunirá bolsonaristas truculentos, mercenários e a escória social, como vemos atualmente na Venezuela. É bando de lúmpens!

Bolsonaro quer uma força armada de governo, contrariando a Constituição que estabelece, de forma democrática e isonômica, que o monopólio da força é do Estado. Ele segue os passos de Hugo Chávez que, em 2007, também falando que se armava um golpe contra ele, criou a Milícia Nacional Bolivariana – hoje ela se compõe de dois milhões de indivíduos. A guarda pretoriana remonta ao Império Romano e era integrada por legendários que protegiam territorialmente o centro do poder. Com a ascensão em Roma de Otaviano, a guarda se tornou pessoal do imperador e altamente belicosa. O caudilhismo chavista é justamente isso; e o que Bolsonaro colocou em andamento também.

Quando se diz que o presidente organiza o seu exército particular não é sem motivo: pouco antes da saída de Sergio Moro do Ministério da Justiça, Bolsonaro conseguiu anular uma portaria do Exército que determinava o rastreamento de armamentos. Além disso, obteve a assinatura do ex-ministro em decreto que elevou à estratosfera a permissão para compra de munição – decreto idêntico fixado por Chávez às vésperas de anunciar o seu exército privado. Hoje, no Brasil, há 379.471 armas de fogo. Como o novo decreto autoriza a compra de 600 munições por arma, passarão a circular na sociedade 227.682.600 balas. O resumo da ópera que Bolsonaro vende (de que é preciso armar o povo para evitar um golpe, embora seja ele quem queira fazê-lo) é um barril que explodirá. Cabe à PGR esvaziá-lo. Mussolini, Chávez, Nicolás Maduro e diversos ditadores africanos organizaram suas guardas pretorianas. Bolsonaro já deixa um cheiro de pólvora suspenso no ar.

Bolsonaro promove a formação de um exército paralelo às Forças Armadas,e isso é crime. Trata-se de uma espécie de guarda pretoriana que será composta por bolsonaristas truculentos, mercenários
e a escória social. Um bando de lúmpens

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