28/02/2020 - 10:09
Ao completar 48 anos de jornalismo, me assusta os rumos que a profissão está tomando nesse período de obscurantismo provocado pelo bolsonarismo. E não é só porque ele foi sexista e misógino ao atacar a jornalista Patrícia Campos Mello. Foi chocante e repugnante, por óbvio. Mas meu estarrecimento vem pelo conjunto da obra dos métodos intimidatórios que Bolsonaro está impondo à imprensa. O presidente demonstra cada vez mais seu desprezo pela liberdade de expressão e, sobretudo, pelas garantias individuais previstas na Constituição. Bolsonaro vem se tornando uma ameaça aos princípios democráticos e precisa ser parado, antes que ele leve o Brasil à uma crise institucional sem precedentes, com retrocessos políticos semelhantes aos registrados a partir de 1964.
Não é à toa que Bolsonaro militarizou o Palácio do Planalto, instalando generais em todos os ministérios que ocupam o centro do poder. Passa um recado claro à Nação: faço o que bem entendo, falo as asneiras que quiser e se desejarem me apear do poder, pelo instrumento democrático do impeachment, os militares me garantem. Não é por outra razão que o governo tem hoje nove dos 22 ministros oriundos da caserna, mais do que havia no governo de Castelo Branco (cinco ministros militares).
Ofendendo jornalistas quase que diariamente na porta do Palácio da Alvorada – os gestos de banana são fichinha perto dos xingamentos com palavras obscenas e chulas que ele reverbera -, Bolsonaro deixa claro que está preocupado apenas com o que pensa seu grupo de apoio, basicamente militares, evangélicos e integrantes da extrema-direita. Por isso, ele aproveita a claque que o aguarda todas as manhãs na saída do palácio para repetir suas injúrias contra os jornalistas, destilando todo seu ódio e preconceito.
Essa desfaçatez do presidente me faz lembrar de outros governantes desequilibrados que se voltavam contra a imprensa para desviar o foco de sua insanidade. Maluf, Collor e os petistas, sobretudo os lulistas e cutistas, atacavam a imprensa que não era dócil às suas doutrinas. O PT de Lula, por exemplo, só respeita quem lhe é simpático. Não podemos esquecer dos carros da mídia depredados por petistas em eventos por eles promovidos. Por sorte, a democracia acabou se encarregando de deixar os radicais desses segmentos à margem do processo político, já que muitos deles foram parar na cadeia por corrupção. É de se esperar agora que Bolsonaro e seus asseclas tenham igual destino: sejam expurgados da vida pública, antes que a frágil democracia brasileira sofra abalos irreversíveis, como aconteceu há 56 anos, com as baionetas calando a imprensa livre.
Bolsonaro deve ser expurgado da vida pública, antes que a frágil democracia brasileira sofra abalos irreversíveis