O desastre na usina nuclear de Fukushima, que aconteceu há nove anos, é uma dessas tragédias que não terminam e cujos efeitos continuarão sendo sentidos em longo prazo. O problema agora é a água radioativa acumulada em 1044 tanques de tratamento da usina, que foi parcialmente destruída por um terremoto de magnitude 9, seguido por uma série de tsunamis. São 1,23 milhão de toneladas de água que podem causar uma nova catástrofe ambiental de grandes proporções. Isso porque o governo japonês, devido a uma sugestão feita por uma comissão de especialistas, pretende lançar o material armazenado no Oceano Pacífico, conforme adiantou o primeiro-ministro Yoshihide Suga. A medida perturba países vizinhos, como a Coreia do Sul, que aumentou o rigor nas análises de radiação de alimentos importados do Japão. Incomoda também a própria indústria pesqueira japonesa, que é totalmente contra o despejo no oceano. Ela vê o futuro de seus negócios ameaçado e acredita que a medida trará “danos à reputação local”.

POLÍTICA Primeiro-ministro tem pressa: “Não podemos adiar a questão para sempre” (Crédito:Divulgação)

No acidente que destruiu parcialmente a usina em 2011, três de seus reatores derreteram. O acúmulo de efluentes líquidos em Fukushima se deve à necessidade da Tokyo Electric Power Company (TEPCO), que opera as instalações, de bombear água permanentemente para resfriar esses reatores. É um esforço que tem como principal entrave a falta de espaço para armazenar a água, cujo volume só aumenta. A cada dia, 170 toneladas de líquido radioativo enchem os tanques de tratamento. Os técnicos japoneses estimam que a capacidade desses tanques estará esgotada em 2022 e para o governo a única opção é poluir os mares. “Não podemos adiar a questão para sempre”, disse o primeiro-ministro Suga, que fará um pronunciamento nos próximos dias para apresentar uma decisão final sobre o assunto. A tragédia de Fukushima matou 18,5 mil pessoas e deixou mais de dois mil desaparecidos.

Na quarta-feira 28, a organização ambiental Greenpeace divulgou um estudo no qual informa que a água da usina contém carbono radioativo com potencial para danificar o DNA humano. A água é normalmente processada nos tanques de tratamento, onde é eliminada a maior parte dos elementos radioativos, com exceção do trílio, isótopo de hidrogênio que as instalações nucleares costumam despejar nos oceanos. Segundo o Greenpeace, porém, nas águas de Fukushima “a concentração de carbono radioativo é milhares de vezes superior a do trílio e pode causar graves problemas de saúde às pessoas”. O especialista nuclear responsável pelo estudo, Shaun Burnie, calcula que pode haver um total de 63,6 GBq (gigabecquerels) de carbono-14 nos tanques. A TEPCO diz que a quantidade é de cerca de 2 a 220 becquerels por litro, uma taxa que não prejudicaria a saúde.

REAÇÃO Manifestantes na Coreia do Sul protestam contra intenção japonesa de lançar água radioativa no mar (Crédito:Chris-Jung/AFP; Ahn-Young-Joon/Ap Photo)

De qualquer forma, os problemas diplomáticos já começaram. Desde o final de 2019, quando surgiram as primeiras noticias da intenção japonesa, tanto a Coreia do Sul como a do Norte passaram a se movimentar para impedir o lançamento da água de Fukushima no mar. O governo sul-coreano enviou uma carta à Agência Internacional de Energia Atômica pedindo providências sobre o assunto. Na Coreia do Norte, a mídia governamental tratou a proposta japonesa como um “ato criminoso” que pode provocar uma “calamidade nuclear”. Seja como for, o Japão tem um grande problema. E está completamente isolado.