17/02/2017 - 17:40
A Semana de Moda de Nova York terminou nesta quinta-feira sem que os estilistas entrassem em acordo sobre que temporada apresentar, com o futuro das passarelas em perigo e uma indignação política evidente.
Enquanto o circo internacional da moda viaja agora para Europa – a semana de moda de Londres começa nessa sexta-feira, seguida por Milão e Paris -, Nova York deixou 10 tendências claras para essa temporada.
Política
Não houve como escapar do fantasma de Donald Trump. A elite cultural nova-iorquina está indignada com as primeiras semanas caóticas do novo governo e não se recuperou da derrota da democrata Hillary Clinton, muito admirada pela indústria da moda, na eleição presidencial.
Public School parodiou os bonés de beisebol de Trump com a frase “Make America Great Again” (Faça a América grande de novo), Mara Hoffman abriu seu desfile com um manifesto das organizadores da Marcha das Mulheres e o nepalês Prabal Gurung colocou em sua passarela modelos com camisetas de protesto.
Muitos usaram bandanas brancas pedindo tolerância, que os convidados do desfile da Calvin Klein receberam pelo correio. Também foram usadas pelas modelos da Tommy Hilfiger. Muitos estilistas, como a chilena María Cornejo, distribuíram grandes botons fúcsia em apoio à Planned Parenthood, associação de planejamento familiar que os republicanos querem deixar de financiar.
O afro-colombiano-americano Edwing D’Angelo apresentou uma coleção toda em vermelho carmesim para enviar um “alerta vermelho” pela tempestuosa situação política do país.
Maior, mais bonito
Após anos de queixas sobre a magreza das modelos e de que não refletiam a mulher real, várias modelos plus size desfilaram nas passarelas de Nova York.
Ashley Graham – a primeira modelo plus size a aparecer na capa da revista Vogue – desfilou para Michael Kors, que na temporada passada teria dito que “logisticamente” não era possível colocar modelos mais voluptuosas nas passarelas.
Prabal Gurung, que desenhou uma linha de roupas para a marca de tamanho grande Lane Bryant, teve Candice Huffine e Marquita Pring em seu desfile.
Romper o tabu
Sobreviventes de câncer de mama desfilaram com lingeries adaptadas para marca AnaOno, que cria peças para mulheres que passaram por mastectomias ou reconstrução de seios, em um esforço para gerar conscientização sobre a doença.
A modelo australiana com síndrome de Down Madeline Stuart, que também tenta superar estereótipos na indústria da beleza, estreou com sua marca própria.
O véu
Poucos dias depois de Trump proibir temporariamente a entrada de refugiados e cidadãos de sete países muçulmanos nos Estados Unidos, o véu apareceu nas passarelas.
A somali-americana Halima Aden, de 19 anos, desfilou para a quinta temporada da marca Yeezy, de Kanye West, enquanto a indonésia Anniesa Hasibuan voltou para a segunda temporada consecutiva com um desfile onde todas as modelos usavam véu e looks coloridos dignos de princesas.
Mulheres poderosas
O mexicano-americano Louis Verdad optou por calças de tweed, golas altas e saias amplas plissadas em uma coleção dedicada às jovens “millenials” que desejam elegância.
Tory Burch mostrou uma coleção inspirada em Katharine Hepburn para uma mulher poderosa.
Victoria Beckham optou por looks com estilo masculino combinados com botas sexy ou sapatos masculinos pontiagudos.
Diversidade
A lendária marca americana Ralph Lauren desfilou uma coleção que evoca os nômades, com lamês dourados, sandálias plataforma de pele de cobra e túnicas sedosas com cauda.
O estilista belga Raf Simons fez sua estreia na Calvin Klein inspirado pela diversidade da cultura americana, do matelassê tradicional até a Art Déco e o Velho Oeste.
O estilista indiano Bibhu Mohapatra disse que suas musas eram as mulheres do mundo, e a marca Zero+María Cornejo usou modelos de 16 países, de Uganda até a República Dominicana.
Bella Hadid
A modelo e irmã mais nova de Gigi Hadid está em pleno auge. Filha da modelo holandesa-americana Yolanda Foster e do palestino-americano Mohamed Hadid, tomou conta das passarelas de Ralph Lauren, Anna Sui e Oscar de la Renta.
A namorada do cantor The Weeknd também é o rosto de lucrativas campanhas publicitárias para Bulgari, DKNY e Moschino.
Veludo
Luxuoso e acolhedor para o outono-inverno 2017, o veludo dominou as passarelas em botas, calças de jogging e casacos na passarela da Anna Sui, vestidos de noite na Marchesa e vermelho sangue e bronze na Zero+María Cornejo.
As peles também foram uma constante, como nos grandes ombros arredondados e nos vestidos decotados tomara que caia.
Novos horizontes
Marc Jacobs fez com que suas modelos percorressem a passarela em silêncio e pediu aos convidados que não usassem os celulares.
Zac Posen disse que os tempos de mudança pedem um novo foco e lançou uma exibição de fotos para criar uma conversa sobre o assunto.
Vera Wang lançará sua coleção com um vídeo e Sophie Theallet fez uma campanha fotográfica online.
Adeus Nova York?
A Semana de Moda se destacou também por suas ausências: Tommy Hilfiger foi para Los Angeles, assim como Rebecca Minkoff. Vera Wang vai divulgar seu vídeo no início da Semana de Moda de Paris, e a Rodarte também vai apresentar sua coleção na capital francesa.
Na próxima temporada, a Lacoste vai optar pela França e a marca novaiorquina de vanguarda Proenza Schouler também vai se unir ao êxodo para a Cidade Luz.