A Turquia fornecerá “todo o tipo de apoio” à operação contra o grupo extremista Estado Islâmico (EI) na localidade síria de Jarablos, perto da fronteira entre os dois países, declarou nesta terça-feira o ministro das Relações Exteriores, Mevlut Cavusoglu.

Em meio à tensão crescente na área, o governo ordenou nesta terça a evacuação da cidade turca de Karkamis, próxima de Jarablos. A polícia pediu através de alto-falantes para que os moradores deixassem Karkamis por “razões de segurança”.

Esta pequena cidade foi atingida por morteiros esta manhã, num momento em que os rebeldes apoiados por Ancara se preparam para uma operação para expulsar o grupo Estado Islâmico de Jarablos.

“Não queremos o Daesh (um dos acrônimos em árabe do EI) no Iraque nem na Síria. Forneceremos todo o tipo de apoio à operação (cujo objetivo é expulsar os extremistas) de Jarablos”, declarou o ministro durante uma coletiva de imprensa.

Atualmente, centenas de rebeldes sírios apoiados por Ancara preparam no território turco uma ofensiva contra esta localidade.

A operação é motivada pela vontade de Ancara de impedir a tomada da cidade pelas milícias curdas e “abrir um corredor para os rebeldes moderados”, disse um responsável turco.

Jarablos é o último ponto de passagem controlado pelo EI na fronteira sírio-turca.

Esta manhã, dois morteiros caíram na localidade turca de Karkamis, sem deixar feridos, segundo a rede de informação CNN-Türk.

Em resposta, 60 morteiros da artilharia turca atingiram às 03h30 GMT (00h30 de Brasília) quatro posições do grupo EI em Jarablos, indicou esta rede.

Horas mais tarde, outros três foguetes disparados do território sírio atingiram a cidade fronteiriça de Kilis, sem deixar feridos, segundo a agência Anatolia. A artilharia turca também respondeu a estes disparos.

Rami Abdel Rahmane, diretor do Observatório Sírio dos Direitos Humanos (OSDH), explicou à AFP que os bombardeios turcos querem “impedir o avanço das Forças Democráticas Sírias (FDS) a Jarablos” e impedir que os curdos ganhem mais posições na fronteira.

As FDS são uma aliança de combatentes curdos e de grupos armados árabes que lutam contra o EI.

Segundo o OSDH, um comandante curdo de Jarablos foi assassinado e os curdos acusaram os serviços secretos turcos do crime.

Na noite de segunda-feira, a artilharia já havia bombardeado posições desta milícia, da milícia curda PYD (Partido da União Democrática) e do EI no norte da Síria, informou a imprensa local.

A Turquia classifica o EI e o PYD de organizações terroristas e os combate apesar de seu aliado americano apoiar os curdos que lutam contra os extremistas na Síria.

Esta questão, assim como a extradição do ex-imã Fethullah Gülen, que as autoridades turcas afirmam que orquestrou o golpe de Estado frustrado de 15 de julho na Turquia, será tratada durante a visita do vice-presidente americano, Joe Biden, a Ancara na quarta-feira.

Gülen vive desde 1999 exilado nos Estados Unidos.

‘Nova página’ com a Síria

Na noite de segunda-feira o primeiro-ministro turco, Binali Yildirim, convocou as potências envolvidas na crise síria – Rússia, Estados Unidos, Irã – a unir suas forças para “virar uma nova página” na Síria.

Por sua vez, o ministro das Relações Exteriores, Mevlüt Cavusoglu, defendeu a necessidade de “limpar” de extremistas a fronteira turco-síria (900 km).

No último sábado um atentado na localidade turca de Gaziantep, perto da fronteira com a Síria, custou a vida de 54 pessoas que acompanhavam um casamento curdo, incluindo várias crianças.

Mas há uma grande confusão em torno dos autores do massacre.

Abdulkadir Selvi, editorialista do jornal Hurriyet, afirmou nesta terça-feira que este atentado havia sido cometido como forma de advertência antes da próxima ofensiva de Jarablos.

Yildirim disse no fim de semana que seu país queria um papel mais ativo no conflito sírio para impedir que a Síria fique dividida entre diferentes comunidades.

Enquanto isso, quase seis semanas depois do golpe frustrado, uma segunda reunião em um mês – fato inédito – do Conselho Militar supremo (YAS) foi realizada em Ancara para abordar a reestruturação atual do exército, cuja metade dos generais foram detidos ou destituídos.

Um total de 586 oficiais com patente de coronel passarão à reserva, anunciou o ministério da Defesa após a reunião.