Por Maria Carolina Marcello

BRASÍLIA (Reuters) – A menos de uma semana da eleição da Mesa do Senado, negociadores das principais candidaturas à presidência da Casa trabalham intensamente nas últimas articulações e apostam, cada lado, nas chances vitória a partir de estimativas de placar e da expectativa de “traições” daqueles que prometeram apoio, já que o voto é secreto.

A conta não fecha. Enquanto articuladores envolvidos na tentativa de reeleição do atual presidente da Casa, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), calculam ter entre 55 e 60 votos para a vitória do candidato preferido do governo, aliados de Rogério Marinho (PL-RN), ex-ministro do ex-presidente Jair Bolsonaro, garantem já contar com apoio suficiente para um empate e vislumbram um placar favorável a partir de movimentações políticas na próxima semana.

“Entendo que a gente está muito próximo da vitória”, disse o senador Carlos Portinho (PL-RJ), que foi líder do governo Bolsonaro no Senado e é defensor da candidatura de Marinho.

“Nesta semana muita coisa evoluiu. Tem um vento soprando favorável à candidatura do Marinho e as articulações estão intensas aqui”, acrescentou.

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Para o senador, o cálculo de partidários de Pacheco é um “blefe”. A candidatura de Marinho conta com o apoio declarado do PP, do PL e do Republicanos, um total de 23 votos, de acordo com o parlamentar, que também vislumbra o apoio de integrantes de outras legendas.

“Então ele teria que ter todos os outros (votos) e no caso de 60, só se tivesse 83 senadores”, disse –o Senado tem 81 parlamentares.

Portinho adiantou ainda que na próxima semana deve haver o anúncio de apoio de outras siglas.

Duas fontes que acompanham de perto as negociações, uma do lado de Pacheco, e outra de posição não declarada, avaliam que Marinho não contaria com mais de 28 votos.

Rebatem a versão de aliados de Marinho –uma delas chega a dizer que a chance de vitória do senador do PL é nula– e garantem que são os adversários que estão blefando.

“O pessoal do Marinho sabe jogar com a informação para pressionar”, disse a outra fonte.

“É mais uma narrativa para conturbar o jogo”, avaliou, considerando que a turma de Marinho trabalha para descredenciar o senador Davi Alcolumbre (União-AP), principal articulador da candidatura de Pacheco.

De fato, aliados de Marinho afirmam ouvir reclamações de colegas, segundo os quais haveria uma insatisfação com Pacheco por não se envolver diretamente nas conversas, como tem feito o adversário.

A articulação delegada a Alcolumbre esbarra na distribuição de cargos na Casa, o que teria, inclusive, virado votos a favor de Marinho, garante Portinho.

Segundo o líder do governo anterior, Alcolumbre pretende presidir novamente a Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da Casa, um importante colegiado e estaria de olho na presidência do Senado em 2025, deixando pouco espaço para uma alternância nas instâncias de comando no Senado. Alcolumbre já presidiu a Casa e foi o principal cabo eleitoral de Pacheco na eleição passada.

“Isso desagrada PSD, MDB e muitos, pelo que ouvi. Não querem jogo de carta marcada”, disse Portinho.


Uma das fontes consultadas pela Reuters, a de posição não declarada, desconfia das investidas contra Alcolumbre e acredita que o ex-presidente da Casa “é bom de conversa”.

Aposta, ainda, na margem de manobra que o governo federal tem para negociar o apoio a Pacheco, já que ainda estão sendo indicados os cargos no segundo e terceiro escalões.

Todo o cenário pode, entretanto, mudar no início da próxima semana, quando deve ocorrer um jantar oferecido por Marinho. O número de presentes poderá indicar as reais chances do senador.

“Se tiver mais de 32 votos presentes, declarando apoio formal, pode ser que a situação para o Pacheco se complique”, disse essa fonte.

A eleição do presidente do Senado pelos próximos dois anos ocorre no dia 1º de fevereiro. Vence aquele que, segundo a tradição na Casa, receber 41 votos ou mais. A votação é secreta, por meio de cédulas de papel.

Aquele que sair vitorioso terá nas mãos o poder de definição da pauta da Casa, e também de aceitação ou recusa de pedidos de abertura de CPIs (Comissões Parlamentares de Inquérito) ou de impeachment de ministros do Supremo Tribunal Federal (STF).

Também terá o papel de presidir o Congresso Nacional, sendo, assim, o representante do Poder em questões institucionais, além da condução das votações conjuntas para a análise de vetos presidenciais e projetos orçamentários, entre outras medidas.

À frente do Senado, Pacheco buscou atuação comedida, sem grandes atritos com o governo anterior. O senador serviu, no entanto, de anteparo na Casa para matérias controversas defendidas por Bolsonaro, principalmente as ligadas à pautas de costumes. Além disso, foi um contínuo defensor da confiabilidade das urnas eletrônicas e da lisura do processo eleitoral, seguidamente atacadas pelo hoje ex-presidente.

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