Testei esta semana o projeto “Your Summer Listening, Simplified”, criado recentemente pelo MoMA.  A iniciativa celebra a vida por meio de diversas listas de músicas que podem nos inspirar, fazendo uma associação interessante entre arte, música e inspiração. Adorei!

O MoMA é um dos mais famosos e importantes museus de arte moderna do mundo e destaca-se por sempre estar aberto para o novo. Explora a dimensão que a arte é inspirada pela música, e vice-versa. Só para citar um bom exemplo disso, vale a pena ouvir a maravilhosa canção “Starry Starry Night”, do cantor e compositor Don McLean. Ele estava sentado na varanda de sua casa, vendo o quadro “A Noite Estrelada”, de Vincent van Gogh. A inspiração surgiu e ele simplesmente começou a tocar a guitarra. “Ao olhar para a imagem, percebi que a essência da vida do artista é a sua arte. Então, deixei a pintura escrever a música para mim”, disse.

O MoMA não economiza nas opções para incentivar as pessoas a ampliarem seus universos e suas emoções por meio de novas músicas. O museu chama atenção para uma declaração do historiador e curador Olu Oguibe. Segundo ele, quando estamos tristes repensamos nossas vidas e procuramos sentido por meio da natureza ou do compartilhamento de histórias. “Tempos de quarentena nos fazem exercitar a imaginação. É por isso que a arte é essencial, e não um privilégio”.

A viagem digital começa com  “Sons de Nova York” para encher nossos corações de saudade da cidade que nunca dorme. Também presta uma homenagem à Nova York, já que está instalado no seu coração de Manhattan, na Rua 53, entre a 5ª e a 6ª Avenida. “Art Tunes” reúne sons sobre arte, integrando músicas que homenageiam pintores famosos como Van Gogh, Escher, Cézanne, Max Ernst, Salvador Dali e René-Georgette Magritte. A música para Picasso (“Picasso Last Words”) foi inspirada em suas últimas palavras: “bebam por mim porque eu já não posso beber mais”. Monalisa, Guernica, o arquiteto Frank Lloyd Wright e a cidade de Toulouse também constam dessa seleção.

Depois, em outra playlist, homenageia duas gerações de artistas americanos (Edward Ruscha e seu filho Eddie Rucha), com seus sons favoritos em “Smoke Rings MoMA Tracks by Eddie Rucha”. Apesar de ter nascido em 1937, Edward é um artista bem atual, com um trabalho que mistura pintura, impressão, desenho, foto e filme.

Na coletânea “Remenbering Tony Allen”, os curadores do MoMA prestam uma homenagem a Aurlus Mabele, Dibango e Tony Allen com uma lista de músicas que inspiraram suas produções. O MoMa relembra também, com bom humor, a frase de Ralph Rugoff, curador da Bienal de Veneza de 2019: “Que você viva em tempos interessantes”. Por ironia do destino, o título fazia uma brincadeira com uma antiga frase em inglês relacionada à uma maldição chinesa. Sem dúvida, não poderia ser mais pertinente para o atual momento, no qual o COVID-19 se alastrou pelo planeta, como uma praga.

Como não poderia faltar, os latinos ganharam destaque na playlist “A Listener s Guide to Modern Latin America”, com músicas de Heitor Villa-Lobos, Teresa  Carreño, Antonio Lauro, Astor Piazzolla, Albero Ginastera e Christelle Abinasr. Essa playlist é perfeita para quem conhecer virtualmente a mostra “Sur Moderna: Uma Jornada de Abstração”, disponível no site do MoMA e que apresenta a criatividade de artistas da região na pintura, escultura, design e arquitetura. Entre os integrantes, destacam-se Lygia Clark, Gego, Hélio Oiticica, Jesus Rafael Soto e muito mais.

Para quem busca uma experiência com toques espanhóis, uma boa opção é a playlist “Juan Miró: Birth of the World”, criada por Joan Punyet Miró (neto do artista) e que pode ser utilizada simultaneamente por quem deseja visitar virtualmente a exposição de Miró que o MoMA promoveu em junho de 2019.

Esculturas também não ficam de fora da relação do MoMA. Escute “Constantin Brancusi Scuplture”, uma seleção feita por Paulina Pobocha e Mia Matthias, perfeita para se informar sobre a exposição do MoMA que ocorreu há dois anos para homenagear o escultor Constantin Brancusi (1876-1957). Outra retrospectiva, a de Charles White, posiciona a arte como parte integrante da luta afro-americana. A equipe de curadores e de profissionais do MoMA também se reuniu para compartilhar a trilha sonora e os filmes favoritos do time.

Essa troca digital de músicas e de ideias está intensificada com a quarentena forçada. Um exemplo desse movimento: recebi indicações de 180 amigos para uma playlist que usei durante a produção de uma nova série de pinturas. São mais de 11 horas de músicas, que podem ser conferidas no link.

Todo esse estímulo musical também causa surpresa quando nos damos conta que o Ipod é uma criação relativamente recente (2001), mas que foi capaz de iniciar uma mega transformação no planeta rumo ao som em formato eletrônico. Infelizmente, a história de seu criador, Steve Jobs, foi curta (ele faleceu com apenas 56 anos), porém ele foi o grande visionário que permitiu o início da revolução digital, modernizando de forma abrupta seis diferentes indústrias: PCs, filmes de animação, música, telefones, tablets e publicação digital.

Jobs se autointitulava um artista pela paixão que tinha por design, pela arte da escrita e por produtos estilosos e fáceis de usar que desenvolveu. Dizia que os verdadeiros artistas eram os que simplificavam suas criações. Compreendia intuitivamente os sinais emitidos pelos produtos que estava criando e sabia incorporar avanços disruptivos e inimagináveis (como um aparelho sem botão), fazendo realmente jus à conotação de artista.

Considero Jobs o Duchamp dos tempos modernos. Em seu iPod, Steve Jobs tinha o coração na década de 60, com Aretha Frankin, B.B. king, Buddy Holly, Buffalo Springfield, Don Mclean, Donovan, The Doors, Janis Joplin, Jefferson Airplane, Jimi Hendrix, Don McLean, Johnny Cash, John Mellencamp, Simon & Garfield, The Monkeys, Sam the Sham, além de muitas canções dos Beatles, Rolling Stones e Bob Dylan. Artistas contemporâneos eram uma minoria, mas guardava sons do U2, Talking Heads, Seal, Alicia Keys, Black Eyed Pears, Coldplay, Dido, Green Day e John Mayers. Acesse a playlist com as dez músicas preferidas por Steve Jobs. Ela tem uma canção adicional (“One too Many Mornings”), incluída na relação porque foi o som que pediu para Bob Dylan quando o cantor fez um show em Palo Alto (2004). Steve Jobs sempre instigava o espírito de rebeldia das pessoas e dizia que preferia ser pirata que entrar na Marinha. Em tempos de COVID-19, esse pensamento e essa música são mais do que atuais!

Escreva para sugerir um tema ou para contar algo sobre seu artista preferido. Adoro boas histórias! (Instagram Keka Consiglio).