Na tarde de terça-feira 29, vândalos transformaram a Esplanada dos Ministérios numa verdadeira praça de guerra. Patrocinados pelos tradicionais arautos do “quanto pior, melhor”, como entidades ligadas à CUT, UNE, PC do B e PT, arruaceiros devastaram o que viram pela frente, numa demonstração completa de inversão de valores. O mais esdrúxulo, é que esses grupos recebem milhões da União para subvencionar suas atividades, articuladas desde a fragorosa derrota nas eleições municipais para deixar o País em permanente estado de instabilidade. Temendo novas ofensivas, o Palácio do Planalto, desde a última semana, já mapeia quem são os principais destinatários desses recursos e se eles foram utilizados para financiar a baderna da semana passada. A ideia é secar a fonte que irriga os cofres desses movimentos, que de “sociais” só tem o nome.,

Longe de querer se estabelecer como uma oposição programática, calcada em idéias e propostas, os baderneiros sem voto almejam mesmo é o tumulto e a arruaça como um fim em si mesmo. Por exemplo, eles protestavam contra a PEC que estipula limite de gastos públicos e contra a reforma do ensino. Mas, paradoxalmente, destruíam bens públicos, que terão de ser reparados com o dinheiro do contribuinte. O saldo da salvageria é lamentável. Ao todo, foram depredados 14 ministérios. Monumentos arquitetônicos que compõem a cidade de Lúcio Costa e Oscar Niemeyer, como o Museu da República, também sofreram atos de vandalismo, como pichações. Além disso, as bandeiras da Alameda dos Estados foram arrancadas e alguns mastros danificados.

Democracia não deve ser confundida com anarquia e as lamentáveis cenas protagonizadas pelos delinqüentes responsáveis pelo quebra-quebra da tarde de terça-feira, todos sabem a troco de quê e a mando de quem, em nada se assemelham às boas práticas democráticas. É válido levar bandeira, carro de som, proferir palavras de ordem e, até, xingamentos contra quem quer que seja o alvo. Mas, ao partir para a violência, como ocorreu naquele dia, o ato acabou sendo desqualificado.

Esses grupos, useiros e vezeiros na tentativa de incendiar o País quando seus interesses mais mesquinhos são ou estão prestes a ser contrariados, adotam práticas já manjadas: em geral, confrontam violentamente a polícia, para depois acusá-la de cometer toda a sorte de arbitrariedades. Foi isso o que ocorreu na Esplanada. Os vândalos miraram seus rojões contra o grupo de policiais que apenas observavam o tombamento do veículo de uma emissora de televisão.

Sempre sob a capa da falsa moralidade, os baderneiros também dizem agir em nome de causas, estas forjadas pela mesma turma que um dia ajudou a dourar a tese segundo a qual os fins justificam os meios. Até descobrirmos, talvez tarde demais, que não apenas os meios eram repugnantes e abjetos, como também os seus fins.

Se estivessem realmente preocupados com fins republicanos, parariam alguns segundos para tentar entender a necessidade da PEC do Teto dos Gastos. Não se trata de um mero congelamento de gastos, mas da preservação de receitas, evitando que o populismo irresponsável de governantes de ocasião avance na renda futura das próximas gerações e termine de arruinar com o que resta de expectativa de recuperação da economia do País. Tanto a PEC 55 como a necessária reforma da Previdência deveriam ser matérias de manifestações sim, mas por meio de ideias e debates, a fim de aprimorá-las. É momento de construir, não destruir.

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Os dois carros de som, com os organizadores da manifestação, em nenhum momento durante os ataques tentaram impedir as ações dos vândalos usando a voz amplificada. Porém, quando a Polícia Militar foi obrigada a dispersar a manifestação, usando bombas de gás lacrimogêneo, eles passaram a julgar a ação dos policiais como “truculenta”. “Aqui tem estudantes, mulheres e até crianças. Não se pode agir dessa forma contra eles”, gritava um dos líderes. Resultado: os dois veículos também foram obrigados a deixar o local.

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INVERSÃO DE VALORES – Líder do MTST, Guilherme Boulos, que comanda invasão a prédios públicos, é condecorado na Câmara

Num ambiente de conflito, os manifestantes tentavam intimidar os senadores que votavam a PEC dos Gastos. Muitos dos parlamentares foram até o comitê de imprensa do Senado para acompanhar as cenas lamentáveis. Alguns não acreditavam no viam. “Que loucura”, admitiu Humberto Costa (PT-PE).

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AGITADOR PROFISSIONAL – O senador Lindbergh Faria, que defendeu os vândalos de Brasília, agora pede o impeachment de Temer

Para tentar impingir ao plenário o mesmo clima de conflagração que estava instalado lá fora, o líder da minoria, senador Lindbergh Farias (PT-RJ), cobrava do presidente Renan Calheiros (PMDB-AL) a abertura das galerias para a entrada dos manifestantes, que mais se comportaram como arruaceiros, vide as ações adotadas no gramado central da Esplanada. “Presidente, vamos abrir as galerias e deixar o pessoal entrar”, cobrava. Mais tarde, Lindbergh revelou seus verdadeiros propósitos. Apresentou à Mesa da Câmara o pedido de impeachment do presidente Michel Temer.

A bancada do atraso, formada por Lindbergh, Gleisi Hoffmann e Vanessa Grazziotin, engrossou o coro pela abertura das galerias para os manifestantes

As senadoras Vanessa Grazziotin (PCdoB-AM) e Gleisi Hoffmann (PT-PR) também engrossaram o coro em defesa da abertura das galerias para os manifestantes. “Deixar as galerias vazias não é um gesto democrático, senhor presidente”, declarou Gleisi. Felizmente, o presidente da Casa, Renan Calheiros, não atendeu ao pedido. “Não entendo por que as galerias não podem ser ocupadas. Senhor presidente, se o projeto (PEC dos Gastos) não é ruim para o país por que, então, não deixar o povo vir aqui e olhar quem está votando a favor de sua aprovação?”, questionava Vanessa.

No dia seguinte, o que se viu pela Esplanada foi um rastro de destruição. Cenas lamentáveis de uma minoria que foi ao local só para provocar arruaça. De acordo com o balanço da Secretaria de Segurança, dentre os alvos da ação dos vândalos estavam os ministérios da Educação, Desenvolvimento, Esporte, Cultura, Meio Ambiente, Planejamento, Desenvolvimento e Gestão, Desenvolvimento Social, Agricultura, Integração Nacional, Comunicações, Transportes, Indústria e da Aeronáutica. Esses lugares tiveram vidros quebrados, suas fachadas pichadas, além de luminárias, lixeiras, orelhões e placas derrubadas e danificadas.

ESTOPIM DA CRISE

Manifestantes contra a PEC dos Gastos e Reforma do Ensino se transformaram em vândalos

O que os manifestantes pedem
– Que Saúde e Educação fiquem de fora do limite de investimento imposto pela PEC
– São contra as perdas das duas pastas acumuladas ao longo dos 20 anos de vigência da PEC

O que os estudantes reclamam na reforma do ensino médio
– Falta de diálogo entre governo e entidades estudantis
– Não concordam que seja facultativo o ensino de sociologia, filosofia, artes e educação física

Nem o símbolo maior do catolicismo no país, a Catedral, foi poupado pela ação criminosa. O monumento desenhado pelo arquiteto Oscar Niemeyer teve as paredes pichadas. No estacionamento do templo religioso, um carro foi incendiado e o bicicletário, destruído. O mesmo ocorreu na Esplanada dos Ministérios, quando dois veículos – um deles de uma emissora de TV – foram virados pelos manifestantes. O protesto ainda deixou feridos. Onze pessoas foram atendidas no Hospital de Base, o maior da cidade, com ferimentos leves. Entre eles, dois policiais militares, que tiveram perfuração no rosto, nas costas e na cabeça.


A Polícia Militar demorou a agir no dia. Os policiais apenas assistiam à cena de vandalismo no Congresso praticada pelos manifestantes. Eles só atuaram quando dois veículos estavam completamente destruídos. A Secretaria de Segurança Pública alegou que a atuação da PM foi bem executada e que a intenção era concentrar os manifestantes no gramado central da Esplanada.

Mas não foram somente as cenas protagonizadas no dia da votação das Dez Medidas contra a Corrupção que mancharam a atuação do parlamento. Enquanto Renan Calheiros tentava votar o projeto da mesma forma como chegou da Câmara, o líder do Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST), Guilherme Boulos, recebia uma condecoração por ter prestado “serviço de relevância” ao País. Boulos é responsável por comandar invasão de propriedades e de órgãos públicos, como ministérios.

Em junho, o grupo invadiu o prédio da Presidência da República, em São Paulo. O edifício está situado na esquina da Avenida Paulista com a Rua Augusta, região central da capital paulista. Antes de entrarem no edifício, os integrantes do MTST faziam um ato contra o presidente Michel Temer (PMDB) na Avenida Paulista.

A honraria concedida ao líder do MTST foi entregue pelos deputados Rodrigo Maia (DEM-RJ), Felipe Bornier (Pros-RJ) e Ivan Valente (PSOL-SP). A medalha do Mérito Legislativo deveria ser destinada a “personalidades que realizam ou realizaram algum serviço considerado relevante para a sociedade”. Não àqueles que promovem baderna e ocupação ilegal.

AS MARCAS DA DESTRUIÇÃO
Arruaceiros tomaram conta de Brasília na terça-feira 29 e provocaram o caos na capital federal, com graves danos ao patrimônio público

Ministérios depredados

Ministério da Educação
– Prédio pichado, vidraças quebradas, as duas entradas destruídas, luminárias, lixeiras, orelhões e placas danificadas
– Os manifestantes invadiram o prédio, chegando ao segundo andar, onde quebraram computadores, mesas e cadeiras

Ministério da Cultura
– bicicletário danificado

Aeronáutica
– paredes e calçadas pichadas

Outros 14 ministérios foram danificados

Monumentos danificados

Avenida das Bandeiras
(em frente ao Congresso)
– calçada pichada, todas as bandeiras arrancadas e alguns mastros danificados

Biblioteca Nacional
– pichada, várias placas de sinalização derrubadas, assim como a parada de ônibus localizada em frente

Catedral de Brasília
– foi pichada, orelhões, placas de sinalização e orientação derrubados e danificados
– no estacionamento, um carro incendiado e o bicicletário destruído


Museu Nacional
– foi pichado, placas de sinalização derrubadas e danificadas; no estacionamento um carro incendiado


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