Em um ritual macabro, numa encenação que mimetizava insinuações racistas típicas da Ku Klux Klan americana, um grupelho autointitulado “300 do Brasil”, embora somasse uma ínfima parcela disso na tropa, deu início dias atrás a mais patética das mobilizações radicais que se tem notícia por esses dias. De tochas na mão, capuz na cabeça, túnicas, faixas e palavras de ordem neofascistas, postaram-se em frente ao Supremo Tribunal Federal, numa tentativa de intimidação criminosa e antipatriótica. Não era o primeiro, nem o último, de seus movimentos nesse sentido. Acampados como tribo de veneradores do bolsonarismo, na Praça dos Três Poderes, armados, como faziam questão de dizer e mostrar, os extremistas de direita resolveram ir ainda mais longe nos atos terroristas. No último final de semana bombardearam com fogos de artifício o prédio da Suprema Corte, simulando ataques de todo absurdos. Era um recado claro, sem meias palavras, de ameaças da seita que conta com o beneplácito do mandatário em pessoa. Mesmo com protestos contra o episódio, vindos da maioria das instituições e setores da sociedade, o presidente não emitiu sequer uma única crítica ao grupo. Ao contrário: queixou-se de perseguição aos seus. Os delinquentes xingaram ministros e atentaram inúmeras vezes contra os poderes constituídos, ocuparam instalações e provocaram arruaça, em um sobranceiro atrevimento, até serem finalmente contidos pela Lei. Já não era sem tempo. Como bem disse o ministro togado Luís Roberto Barroso, há uma larga diferença entre militância e bandidagem. Depois do atentado pirotécnico a resposta veio rápida. A prisão da líder do movimento e de mais alguns de seus comparsas foi decretada. Ato contínuo, o STF se pronunciou advertindo que não tolerará mais abusos dessa natureza. Estava traçada ali a linha limítrofe contra os excessos, a fronteira para o intolerável. Sara Giromini, que prefere ser tratada pelo codinome Sara Winter, em alusão a uma espiã nazista do pré-guerra, foi parar atrás das grades após uma série de aberrações que inclui vídeos desafiando autoridades, manipulação de informações, invasões e depredações. A ex-feminista, que tempos atrás se aliou à causa e acabou por fugir com o dinheiro da entidade da qual fazia parte na Hungria, chefia o bando de aloprados que tem por objetivo declarado fechar o Legislativo e o Judiciário, enquanto presta vassalagem ao Messias redentor do Planalto. Não faz outra coisa que não seja ação midiática. Com a ida de Winter para o xilindró, os simpatizantes tentaram responder. Ainda no domingo, o próprio ministro da Educação, Abram Weintraub, um dos mais despirocados capatazes do bolsonarismo, foi confraternizar com os manifestantes que insistiam em pregações antidemocráticas. No ambiente “nonsense” do governo até a ideia de elaborar uma nota, assinada em conjunto pelo capitão do Planalto e por dois de seus generais de reserva — o vice Hamilton Mourão e o ministro da Defesa, Fernando Azevedo — foi executada. O triunvirato, numa pressão nada casual, quis lembrar que as Forças Armadas “estão sob a autoridade suprema do Presidente da República” e que não cumprem “ordens absurdas”, sem explicitar quais seriam elas. Naturalmente essa posição, ao arreganho da Constituição que estabelece a instituição militar como uma força do Estado e não de governo, denotava um flerte com o golpismo. O temor do presidente está claro e desenhado. O cerco se fecha, especialmente com as investigações da CPMI das fake news que promovem uma campanha massacrante de destruição de reputações, financiada por empresas e aliados do governo, que vêm sendo alvos de apreensões, batidas policiais e desbaratamento. Bolsonaro teme, com razão, a chegada do caso aos seus filhos, que montaram um “gabinete do ódio” para alimentar a gestão fake news do pai. Os inquéritos e mandados de prisão entraram na ordem do dia. A terrorista marqueteira Sara Winter deve mofar um bom tempo na cadeia. O próprio ministro Weintraub foi, inicialmente, multado em R$ 2 mil por não usar máscara no protesto do domingo, mas a reprimenda de caráter pedagógico é a menor das infrações pela qual irá responder. Vem muito mais pela frente. Ao forjarem crises para reafirmar uma ideologia que parece depender basicamente de arruaças, os bolsonaristas que pregam o caos começaram a notar que irão perder a batalha se seguirem com essas ações vexaminosas de afronta aos princípios da legalidade. Nenhuma insurgência contra a democracia deve ficar impune.

 


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