O ex-governador Leonel Brizola é citado em um documento secreto divulgado pelo governo americano nesta terça-feira 18, após ordem do presidente Donald Trump para liberação de arquivos relacionados ao assassinato de John F. Kennedy, morto a tiros em 1963, no Texas. Entre os relatórios, aparecem textos produzidos pela CIA (Agência Central de Inteligência dos EUA — em tradução) sobre países latino-americanos durante a Guerra Fria, incluindo o Brasil.
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De acordo com o documento, Brizola teria recebido uma oferta de apoio material e “voluntários” de Mao Tsé-Tung, líder da China, e de Fidel Castro, primeiro-ministro de Cuba, para a Campanha da Legalidade, que era liderada pelo governador e visava garantir a sucessão de poder no Brasil para assegurar a posse de João Goulart após a renúncia de Jânio Quadros.
“Brizola não aceitou a oferta, embora tenha apreciado o suporte moral”, apontou o arquivo, acrescentando que o então governador do Rio Grande do Sul não desejava transformar uma questão da política brasileira em um “assunto internacional”. De acordo com a CIA, o político recusou as propostas de Mao e Castro com medo de uma intervenção dos EUA no País.
O documento coloca como fonte um “professor brasileiro com bons contatos entre os líderes estudantis comunistas”. O texto ainda afirma que a oferta de auxílio de Fidel Castro foi descoberta e divulgada pela imprensa, mas a de Mao Tsé-Tung não.
Quem foi Leonel Brizola
Brizola nasceu em 22 de janeiro de 1922 em uma família humilde de Cruzinha (RS), pequeno povoado perto da cidade de Passo Fundo (RS). Brizola trabalhou como engraxate e ascensorista, antes de ingressar exclusivamente na política, para financiar o curso de engenharia em 1949. “Era um universitário atípico”, diria dele mais tarde o antropólogo e amigo Darcy Ribeiro, “porque não aderia aos ideais das elites e até se orgulhava de sua origem popular”.
Embalado nas campanhas do PTB gaúcho, foi deputado federal em 1954. No ano seguinte, prefeito de Porto Alegre – e em 1958, aos 36 anos, elegeu-se governador do Rio Grande do Sul. Do Palácio Piratini seguiu para a política nacional.
Deputado federal pelo PTB do Rio Grande do Sul, Brizola foi um dos defensores das reformas de base propostas pelo presidente João Goulart, que assumiria a Presidência em 1961. Brizola havia sido eleito governador do Rio Grande do Sul dois anos antes, em 1959. A atuação dele como governador ajudou a garantir a posse de Jango durante a crise da renúncia de Jânio Quadros.
O movimento, liderado por Brizola, passou a utilizar a rede de rádios do estado buscando apoio à sua causa. Brizola, em boletins diários, conclamava o povo a ir para as ruas a fim de apoiar o retorno seguro e a posse de Goulart. E pedia que a população se postasse contra o golpe da junta militar, afirmando ser este o plano das Forças Armadas.
Em 1962, foi o deputado mais votado do País, pelo Rio de Janeiro. Brizola, do PTB, de um lado, e Carlos Lacerda, do outro, pela UDN, disputavam a hegemonia por um modelo de País. Lacerda e os militares venceram, em 1964, e Brizola foi cassado. Exilado no Uruguai, foi de lá expulso em 1977, indo viver depois nos Estados Unidos e depois em Portugal.
Ele retornou ao País com os anistiados de 1979. Como a sigla PTB havia sido “tomada” dele, Brizola fundou um novo partido, o Partido Democrático Trabalhista, PDT. Pelo PDT ele governou por duas vezes o Rio, em 1982 e em 1990. Tentou duas vezes a Presidência, perdendo para Fernando Collor em 1989 e para Fernando Henrique Cardoso em 1994. Amargou uma terceira derrota em 1998, como vice de Luiz Inácio Lula da Silva.
Nos últimos dez anos de vida, o PDT perdeu espaço na esquerda nacional e Brizola passou a criticar Lula e o PT.
*Com informações do Estadão