Clássico é clássico, mas cheirar apenas a flores e madeira é coisa do passado e uma tendência que se intensifica é a dos perfumes animálicos e gourmands. Marcas de renome internacional como Guerlain, Loewe e Montblanc se dedicam a colocar no mercado produtos para o corpo (e também para a casa, como velas e aromatizadores de ambiente) com cheiros que remetem não só a alimentos, mas a instintos e sensações como o toque da pele.

Na Itália, Hilde Soliani é conhecida por criar itens ousados que fazem referência a locais, pratos e até ao clima da região:
camarim de teatro,
dia de verão,
neve,
ervas comidas por vacas nativas,
brioche com capuccino,
tomate,
gelato na casquinha, entre outros elementos e combinações.

Um de seus perfumes mais famosos traz o panetone dentro do vidro e não é incomum encontrar a especialista dentro de cozinhas, ao lado de personalidades como Massimo Bottura, um dos maiores chefs do mundo.

A recíproca é verdadeira e sua fragrância de manteiga e ostras inspirou o chef três estrelas Michelin Mauro Uliassi na criação de um prato para um jantar especial.

Por aqui, foi o chef André Mifano que criou um menu exclusivo para o lançamento da nova linha de O Boticário com o perfumista Quentin Bisch inspirada em quatro legumes: cenoura, ervilha, beterraba e tomate.

Nas redes sociais, influenciadores realizam parcerias com marcas de beleza e elaboram receitas com base na composição e cores de cosméticos. É o caso da ex-MasterChef Isabella Scherer, que fez bolo de cenoura para combinar com um produto para a pele e salada de pêssegos inspirada em um blush.

Aromas exóticos: o perfume muito além da flor e da madeira
A especialista Hilde Soliani conduz uma prova: aos 62 anos, aprendeu a extrair os odores das flores com a avó perfumista, ainda criança (Crédito:Divulgação )

“Os clientes buscam cheiros nunca sentidos como novas formas de se vestir olfativamente. Não é uma perfumaria de grande escala e consumo rápido.”
Luciana Guidi, empresária

Conjunto de notas

Os perfumes de nicho passam longe da banalidade e nada têm a ver com a essência de uma fruta, legume, sobremesa ou fluido corporal: eles são feitos de uma combinação de notas que sugere o produto ou sensação desejada. “Se quiser recriar uma atmosfera, uma emoção, uma situação, é necessário usar um mínimo de três ingredientes. Caso contrário, você não pode chamar isso de fragrância”, disse Hilde Soliani a Molly Young, do The New York Times.

Tamanha complexidade faz com que seu perfume de bolo de maçã possa custar R$890, por exemplo.

Aromas exóticos: o perfume muito além da flor e da madeira
Do corpo ao ambiente: vela de cogumelo garante notas terrosas e amadeiradas para a casa

A marca de alta perfumaria brasileira Amyi investe em tecnologia, inovação e matérias-primas para criar novos caminhos olfativos e acompanha um mercado em crescimento.

Segundo pesquisa da Euromonitor International, a perfumaria de nicho cresceu 13,7% de 2022 a 2023, e a previsão é que ela movimente R$ 6,8 bilhões nos próximos três anos, somando um crescimento de 89%. “É mais que o dobro do mercado convencional, que crescerá 42,1%”, diz Luciana Guidi, cofundadora e CCO da empresa.

Criado pela perfumista Maria Fernanda Faigle, o Amyi 3.17 é animálico e remete a sândalo, pétala de rosa, cominho, entre outros elementos que constroem o perfume intimista. “Suas notas causam um efeito visceral e primitivo, aguçando os instintos de aproximação física e de toque carnal”, diz Luciana. Já o Amyi 3.18 é do tipo gourmand e traz notas de cacau, cumaru e o frescor do absinto. “Lembrando que o licor era o elixir de criatividade dos artistas da Belle Époque de Paris.” São aromas que contam histórias e suscitam inspirações.Aromas exóticos: o perfume muito além da flor e da madeira