Os armênios iniciaram na noite deste domingo a apuração dos votos das eleições legislativas antecipadas, perigosas para o primeiro-ministro reformista e que poderiam desencadear protestos, em um contexto marcado pela derrota militar em Nagorno Karabakh, percebida como uma humilhação nacional.

O ex-jornalista Nikol Pashinyan, 46, que se tornou chefe de governo em 2018, após uma revolução pacífica contra as elites corruptas, enfrentou o ex-presidente Robert Kocharian, 66, que se vangloria de sua experiência e acusa o rival de incompetência.

Analistas apontam que é quase impossível prever os resultados, uma vez que tanto o premier quanto seu rival conseguiram reunir milhares de pessoas nos comícios que antecederam a votação. Os primeiros resultados oficiais devem ser divulgados até amanhã cedo.

Apesar do calor sufocante, cerca de 50% dos 2,6 milhões de eleitores foram votar, segundo a autoridade eleitoral. Alguns observadores apontaram que a participação foi maior do que o esperado.

“Estou votando pelo futuro do nosso Estado e do nosso povo, pelo desenvolvimento da Armênia”, declarou Pashinyan no Facebook. Já Kocharian afirmou que votou “por uma paz digna e pelo crescimento econômico”.

– ‘Contra os velhos métodos’ –

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“Votei por fronteiras seguras”, um “Exército forte” e um “fortalecimento das relações com a Rússia”, disse Vardan Hovhannisyan à AFP, músico de 41 anos. “Só Kocharian pode fazer isso”, acrescentou.

A professora aposentada Anahit Sargsyan, 63, disse, por sua vez, que votou “contra os velhos métodos, quando as estradas só existiam nos mapas e os fundos eram roubados. Se Pashinyan se for, esse passado voltará”, afirmou.

A popularidade recorde de Pashinyan entrou em colapso depois que a Armênia foi derrotada na guerra contra o Azerbaijão em 2020. Após seis semanas de combates, que causaram mais de 6.500 mortes, Erevan teve que ceder territórios que controlava desde a primeira guerra na década de 1990 para Nagorno Karabakh, uma região separatista do Azerbaijão habitada principalmente por armênios.

– Crise política –

Esta derrota gerou uma crise política na Armênia, forçando Pashinyan a convocar eleições legislativas antecipadas na esperança de aliviar a tensão e reforçar sua legitimidade.

As reformas realizadas pelo primeiro-ministro não impediram que muitos de seus ex-apoiadores se distanciassem após a guerra de Nagorno Karabakh e voltassem para seus adversários, apesar de seus laços com as elites acusadas de saquearem o país.

Pashinyan obteve mais de 70% dos votos nas eleições legislativas de 2018 e agora espera chegar a 60%. Mas o único levantamento disponível dá apenas 25% ao seu Contratante Civil, atrás do de Kocharian, com quase 29%.

Outros partidos, entre os 25 que se apresentaram, têm chance de entrar no Parlamento, segundo essa pesquisa, divulgada anteontem pelo instituto MPG, ligado ao Gallup International.

Nos últimos dias da campanha, os dois rivais se encontraram reunindo cerca de 20.000 eleitores na praça central de Erevan, capital deste país pobre e montanhoso. A campanha eleitoral revelou uma profunda divisão entre os dois lados e muitos observadores temem protestos e até confrontos após as eleições. O presidente Armen Sarkisian considerou inadmissível “incitar o ódio e a inimizade” e pediu a seus compatriotas que votassem de forma “justa e livremente”.



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