O desenvolvedor britânico de chips Arm fará sua estreia na bolsa de Nova York na próxima quinta-feira (14), tornando-se a maior entrada em Wall Street em quase dois anos – uma aposta de US$ 50 bilhões (aproximadamente R$ 247 bilhões, na cotação atual) para seu principal acionista, o japonês SoftBank Group.

A operação vai abrir o capital desta empresa, referência no design de microprocessadores, cujos modelos estão integrados a 99% dos smartphones do planeta.

O mercado vai ter acesso a cerca de 10% do capital desta empresa de tecnologia de ponta com sede em Cambridge, na Inglaterra. O SoftBank espera obter entre US$ 4,5 bilhões e US$ 5,2 bilhões (de R$ 22 bilhões a R$ 25,6 bilhões) graças a uma valorização em bolsa estimada entre US$ 48 bilhões (cerca de R$ 237 bilhões) e US$ 52 bilhões (cerca de R$ 257 bilhões).

O valor em bolsa da empresa supera com folga os US$ 32 bilhões (cerca de R$ 158 bilhões) que a firma de investimentos japonesa aplicou para assumir o controle da Arm em julho de 2016, mas é muito menos que a faixa de US$ 60 bilhões (R$ 296 bilhões) a US$ 70 bilhões (R$ 345 bilhões) pretendida pelo SoftBank há algumas semanas, segundo alguns veículos da imprensa.

Trata-se de uma aposta considerável para a empresa fundada e dirigida por Masayoshi Son, cujo balanço na área de investimentos em tecnologia não tem sido dos melhores nos últimos anos.

O SoftBank amargou prejuízos gigantescos por tomar uma participação da empresa de escritórios compartilhados WeWork e no capital da gigante chinesa do comércio on-line Alibaba.

– Via-Crúcis –

“Ninguém questiona que se trata de uma empresa de qualidade (…) com lucros substanciais e uma atividade completamente viável. Mas as dúvidas se referem ao seu potencial de crescimento”, explicou a respeito da Arm o professor Jay Ritter, da Universidade da Flórida, especializado em estreias na bolsa (IPO).

“Esta valorização de 50 bilhões de dólares (cerca de R$ 247 bilhões) não parece despertar entusiasmo entre os investidores institucionais”, afirmou.

Alguns destacam que a Arm desenvolve microprocessadores, ou CPUs, enquanto a revolução da inteligência artificial (IA) generativa está baseada em GPU, unidade de processamento gráfico mais potente.

A operação é, também, um teste importante para os mercados de capitais, que não registram uma abertura de capital desta envergadura desde a IPO da fabricante de veículos elétricos Rivian, avaliada em US$ 77 bilhões (R$ 380 bilhões) em novembro de 2021.

“Dizer que é (uma estreia na bolsa) muito aguardada seria um eufemismo”, afirmou Mark Roberts, gerente associado da consultoria Blueshirt Capital Advisors. “Saímos de uma via-crúcis como não tinha visto na minha carreira, em particular para os valores tecnológicos”, comentou.

Nos 18 meses que vão do início de 2022 a junho de 2023, foram obtidos US$ 18,7 bilhões (cerca de R$ 90 bilhões) em capital na bolsa nos Estados Unidos, enquanto só em 2021 foram obtidos US$ 155,8 bilhões (R$ 869 bilhões em valores da época), segundo a consultoria EY.

Seria preciso retroceder a 1990 para encontrar números inferiores aos de 2022.

– Faltam mais –

Roberts chamou atenção para o número de bancos que participam da operação: ao menos 27.

“Boa parte da praça financeira de Wall Street está fazendo tudo para que esta estreia na bolsa aconteça de forma correta”, afirmou, particularmente porque a Arm privilegiou Wall Street, em detrimento da Bolsa de Londres.

Outra precaução adicional: o SoftBank reuniu um grupo de clientes de prestígio, da Apple à Nvidia, dispostos a investir US$ 735 milhões (R$ 3,6 bilhões) no capital da Arm.

“Se a transação sair bem, será um bom sinal de uma tendência que vai se afirmar em 2024”, antecipou Roberts.

Mas “não acredito que esta IPO realmente nos diga muito” sobre o estado do mercado, relativizou Avery Spear, analista da Renaissance Capital.

“São necessários mais” exemplos “para nos dar mais informações sobre o apetite despertado pela maioria das companhias que querem entrar” na bolsa, afirmou, mencionando Instacart e Klaviyo.

Instacart (filial da Maplebear), uma plataforma de entregas, e a Klaviyo, especialista em marketing digital, apresentaram seus pedidos de estreia na bolsa no fim de agosto, sem divulgar datas. São avaliadas entre US$ 10 bilhões (R$ 49 bilhões) e US$ 9,5 bilhões (R$ 46 bilhões), respectivamente.

Também circularam este ano os nomes da empresa de pagamentos on-line Stripe, da gigante de merchandising esportivo Fanatics e da gestora de gastos profissionais Navan.

Ainda assim, o entorno se mantém frágil, com a economia americana em uma fase de incipiente desaceleração.

“Os investidores continuam atentos, mas estamos como no ano passado, onde tudo é desfavorável”, afirmou Spear.

Para começar, o mercado considera que o ciclo de aumento das taxas de juros para desaquecer a economia está para terminar, e isso dá aos investidores certa perspectiva, concluiu.

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