A Argentina superou nesta segunda-feira (19) um milhão de contágios por covid-19 desde março, com mais de 26 mil mortos, apesar das medidas restritivas impostas pelo governo há sete meses para frear a propagação do vírus no país de 44 milhões de habitantes.

O último boletim do Ministério da Saúde contabilizou 12.982 novos contágios em 24 horas, elevando o balanço de casos a 1.002.649, dos quais 803.965 já se recuperaram.

Nas últimas 24 horas foram notificadas, ainda, 451 mortes, elevando o número de falecidos a 26.716.

Segundo o relatório, a ocupação em unidades de terapia intensiva chega a 64% em todo o território.

A Argentina ocupa o quinto lugar no número de casos, depois de Estados Unidos, Índia, Brasil e Rússia – todos países que o superam em população, segundo o balanço mundial mais recente feito pela AFP.

Quarentena ‘light’

Apesar das restrições à circulação dentro do país, nenhuma província está sob quarentena estrita, que só foi cumprida no começo da pandemia em março e, segundo especialistas, serviu para conter a curva de contágios.

Várias atividades comerciais e industriais foram restabelecidas no país, exceto reuniões públicas maciças e outras que impliquem o encontro de pessoas em locais fechados.

O maior foco de contágios deslocou-se de Buenos Aires e periferia – a região mais populosa do país, com 14 milhões de habitantes – para o restante da Argentina, que representa atualmente quase 60% dos casos.

“A Argentina não sofre uma pandemia, são múltiplas epidemias muito diferentes em sua evolução”, explicou à AFP Omar Sued, infectologista e presidente da Sociedade Argentina de Infectologia.

Se até julho o foco estava em Buenos Aires, “nos últimos meses, a situação teve uma reviravolta”, indicou.

“A evolução que existe hoje em Córdoba, por exemplo, é muito diferente da de Buenos Aires, que está em um platô e em queda”, explicou Sued.

As províncias com maior número de casos são Mendoza, Córdoba, Santa Fe, Jujuy e Salta.

Poucos exames

Desde o início do surto foram realizados 2.626.406 exames, o que equivale a 57.880 amostras por milhão de habitantes.

“A capacidade de diagnóstico e laboratorial não é suficiente para a população do país, em parte devido a que o pessoal para isso é limitado”, explicou Sued.

No entanto, no início da pandemia “eram feitos uns 300 exames diários e hoje estamos em 27.000”, reforçou.

“Embora seja muito limitado para o que teríamos que ter, a Argentina é um país com uma grande crise econômica, que está gastando mais de um milhão de dólares por dia somente em exames de diagnóstico”, disse.

Em recessão desde 2018, o Fundo Monetário Internacional estimou que a economia argentina cairá 11,8% este ano, enquanto a pobreza alcançará 40,9% da população, segundo dados do primeiro semestre.

Desafio

Com a proximidade das temporada de férias de verão no hemisfério sul, as autoridades avaliam protocolos sanitários para habilitar o turismo, especialmente nas concorridas praias da província de Buenos Aires, um grande desafio para a política sanitária.

“Em todos os países, as aberturas do verão se associaram a um aumento da transmissão do vírus”, destacou Sued ao considerar que a Argentina não será exceção.

Antecipando-se a isso e às reuniões sociais das festas natalinas, “espera-se uma recidiva de contágios para janeiro e fevereiro”, disse o especialista.

“Diante desta situação, as restrições à circulação e a conduta individual são os únicos veículos para criar bolhas seguras até ter acesso a uma vacina, que tampouco será a panaceia”, alertou.