A postura do procurador-Geral da República, Augusto Aras, vem causando revolta entre parlamentares e criando situações cada vez mais difíceis de explicar. Em seu embate mais recente na defesa do presidente Jair Bolsonaro, o PGR contrariou a própria Polícia Federal: apesar de a PF confirmar que o presidente vazou dados sigilosos de um relatório para levantar suspeitas sobre as urnas eletrônicas, concluindo que o presidente cometeu um crime, Aras defendeu o arquivamento do inquérito alegando que o documento era público.

Entre outras decisões polêmicas tomadas pelo procurador, destaca-se seu pedido para que se encerrasse o inquérito do caso Covaxin. Aras considerou que o presidente não prevaricou quando deixou de encaminhar a denúncia de corrupção na compra da vacina indiana, que veio à tona graças ao deputado federal Luís Miranda e seu irmão, Luís Ricardo Miranda, funcionário do Ministério da Saúde. Aras, que a cada dia demonstra mais subserviência a Bolsonaro, agora tenta desqualificar as denúncias feitas pela CPI da Covid.

Na quarta-feira, 23, senadores do Observatório da Pandemia organizaram uma entrevista coletiva de imprensa e cobraram que o PGR tomasse providências em relação ao relatório produzido pela comissão. Entre outras solicitações, foram taxativos ao afirmar que o magistrado “desmerece” as provas encaminhadas pelos parlamentares. Omar Aziz (PSD-AM), presidente da CPI, ao lado do vice-presidente, Randolfe Rodrigues (Rede-AP), e do relator, Renan Calheiros (MDB-AL), apresentaram um resumo do relatório final e as conclusões da comissão. O procurador foi criticado por duvidar da existência de provas contra os responsáveis citados no documento.

Apesar de a própria PF concluir que o presidente Bolsonaro cometeu crime, Aras arquivou o inquérito

“Não podemos permitir que o trabalho de seis meses da CPI, com todos os documentos que foram enviados à PGR, sejam desqualificados. Houve omissão do governo, poderíamos ter menos mortes. Se ninguém for punido, futuramente pode aparecer outro presidente da República que venha a fazer muito pior. Não podemos permitir que isso aconteça”, disse Aziz. Ele também defendeu punição para os responsáveis pela divulgação de fake news. “Devem ser penalizados pela lei. A CPI não está aqui para se vingar, mas para fazer justiça.” O senador Randolfe Rodrigues afirma que não pode haver dúvidas sobre o trabalho da comissão. “Não precisamos provar mais nada. Tudo o que queremos é que a PGR haja com o mesmo zelo e dedicação que houve durante os trabalhos da CPI”.

Já o senador Alessandro Vieira (Cidadania-AL), um dos membros mais atuantes da CPI, disse que “a postura do procurador-Geral da República, Augusto Aras, é uma vergonha para o Ministério Público Federal”. “É um cidadão que contempla as piores necessidades do mundo político, especialmente pela atuação omissa. E que agora partiu para a mentira, ao tentar desqualificar o trabalho da CPI. Aras precisa colocar o cargo a serviço do Brasil, não em interesse próprio ou de terceiros”, concluiu.