A Arábia Saudita anunciou nesta quinta-feira (22) planos de investimentos de 64 bilhões de dólares no setor da cultura e do lazer ao longo dos próximos dez anos, mudando totalmente sua política de entretenimento, algo impensável até recentemente.

Trata-se de um novo capítulo do amplo programa de reformas sociais e econômicas criado pelo príncipe herdeiro, Mohamed bin Salmán, homem-forte do reino conhecido até hoje pelos costumes muito conservadores.

O dinheiro virá do governo e do setor privado, indicou o presidente da Autoridade Geral de Lazer, Ahmad bin Aqil al Jatib, durante uma luxuosa coletiva de imprensa em Riade.

“Já estamos construindo a infraestrutura” necessária e, entre os projetos, há uma ópera, apontou Jatib.

“Vocês verão uma verdadeira mudança até 2020”, acrescentou ele, indicando que, em 2018, estão previstos mais de 5 mil eventos culturais.

Em 2017, houve mais de 2 mil ações culturais que mobilizaram 100 mil voluntários e cerca de 150 pequenas e médias empresas, contou Faisal Bafrat, outro diretor da Autoridade.

Mohamed bin Salmán, de 32 anos, executa um projeto chamado “Visão 2030” para reestruturar a economia, que tem consequências sociais, sobretudo em relação às muulheres, que terão maior participação na vida pública.

A cada ano, os sauditas gastam bilhões de dólares para ver filmes e visitar parques de diversão nos centros turísticos dos países vizinhos, como Dubai e Bahrein, aonde se chega através de uma ponte.

Nesta quinta, Jatib prometeu que em breve vai mudar essa tendência. “Já fui a Bahrein. Agora, a ponte vai usada no outro sentido”, garantiu.

O objetivo é que os sauditas gastem seu dinheiro no reino, e não nos vizinhos. Metade da população da Arábia Saudita tem menos de 25 anos.

Essa meta faz parte de uma campanha chamada “Não viajem ao exterior”.

Desde o ano passado, grandes mudanças puderam ser notadas na Arábia Saudita, onde pela primeira vez houve shows do rapper Nelly, do cantor Cheb Jaled e da cantora libanesa Hiba Tawaji.

Autoridades anunciaram que, em março, serão abertas as primeiras salas de cinema e, em junho, as mulheres poderão dirigir.

Elas ainda são alvo de diversas restrições, como usar uma “abaya” para cobrir o corpo em público e ter autorização de um tutor masculino para viajar.

Em setembro passado, na comemoração do feriado nacional, houve festas nas ruas, em alguns casos embaladas por músicas eletrônicas. Em janeiro, as mulheres puderam assistir a uma partida de futebol no estádio.

– Austeridade –

O anúncio desta quinta foi feito em meio a uma conjuntura econômica difícil, provocada pela queda do preço do petróleo nos últimos anos.

Desde 2014, devido à redução do preço da commodity, a Arábia Saudita apresenta orçamentos deficitários, o que lhe forçou a tirar 250 bilhões de dólares de suas reservas financeiras.

Em 1 de janeiro, o governo duplicou o preço de combustíveis e criou um imposto sobre mercadorias e serviços de 5%.

Ainda foram drasticamente reduzidos os subsídios públicos.

Os sauditas, acostumados aos benefícios estatais, não estão especialmente felizes com as medidas de austeridade.

Além dos investimentos culturais, a Arábia Saudita anunciou grandes projetos turísticos. Entre eles, está o de transformar uma das 50 ilhas do Mar Vermelho em uma estação de balneário de luxo.

O empresário britânico Richard Branson anunciou que estava disposto a investir neste setor.