Arábia Saudita, antes marginalizada, consolida sua influência diplomática

A Arábia Saudita, isolada por um tempo após o assassinato do jornalista Jamal Khashoggi na Turquia em 2018, está de volta à arena internacional ao sediar uma reunião de alto nível entre os Estados Unidos e a Rússia, segundo especialistas.

Altos funcionários russos e americanos se reuniram em Riade nesta terça-feira (18) para redefinir as relações entre Moscou e Washington, cimentando oficialmente os primeiros passos para as negociações sobre a guerra na Ucrânia e uma reunião entre o presidente dos EUA, Donald Trump, e seu contraparte russo, Vladimir Putin.

A possibilidade de a Arábia Saudita sediar uma reunião entre os dois líderes ocorre depois que o Catar, arquirrival do reino, foi elogiado por sediar negociações que levaram a um acordo de trégua entre Israel e o movimento islamista Hamas em Gaza.

“É um grande impacto para a Arábia Saudita: ver as duas superpotências se reunindo em Riade para resolver suas diferenças […] dá prestígio e confirma o poder brando do reino”, diz Ali Shihabi, conselheiro do governo saudita.

A capital do reino também sediará uma cúpula árabe na sexta-feira para discutir a resposta à ideia de Trump sobre Gaza, reunindo os líderes dos seis países do Conselho de Cooperação do Golfo (CCG), além do Egito e da Jordânia.

Antes da guerra na Ucrânia, que começou com a ofensiva russa em fevereiro de 2022, Riade havia sido afastada do cenário internacional após o assassinato do jornalista saudita Jamal Khashoggi na Turquia em 2018, que causou um choque global.

– Saindo do isolamento –

“A Arábia Saudita conseguiu tirar proveito das contradições e do confronto entre o Ocidente e a Rússia na crise ucraniana, especialmente na questão do petróleo, sem perder nenhum de seus aliados, sejam eles ocidentais ou russos. Isso ajudou a tirar o país do isolamento que lhe foi imposto após o caso Khashoggi”, diz Rabha Seif Allam, do Centro de Estudos Políticos e Estratégicos Al Ahram, no Cairo.

Aliado histórico dos Estados Unidos, a Arábia Saudita, um peso pesado do Oriente Médio e o maior exportador de petróleo do mundo, evitou se posicionar sobre a guerra na Ucrânia.

Riade mantém relações estreitas com Moscou em relação à política de petróleo, ao mesmo tempo em que promete centenas de milhões de dólares em ajuda humanitária a Kiev.

O presidente ucraniano, Volodimir Zelensky foi recebido várias vezes na capital saudita, principalmente em uma cúpula da Liga Árabe em Jeddah em maio de 2023 e em uma reunião em junho com o príncipe herdeiro e líder de fato do reino, Mohammed bin Salman.

Zelensky chegará a Riade na quarta-feira para uma visita oficial “há muito planejada”, de acordo com seu porta-voz, que disse que nenhuma reunião com autoridades russas ou americanas estava prevista.

O reino sediou negociações sobre a guerra na Ucrânia em agosto de 2023, que reuniram mais de 40 países, mas sem a participação da Rússia.

– “Ator respeitado” –

A reunião de terça-feira ocorreu após três anos de relações praticamente congeladas entre Washington e Moscou e em um cenário diplomático turbulento: os países europeus realizaram uma reunião de emergência em Paris na segunda-feira para chegar a um acordo sobre a estratégia, Zelensky está na Turquia nesta terça-feira e o enviado especial dos EUA para a Ucrânia, Keith Kellogg, viajará para a Polônia nesta terça-feira e para Kiev na quinta-feira.

A delegação americana foi liderada pelo secretário de Estado, Marco Rubio, pelo conselheiro de Segurança Nacional, Mike Waltz, e pelo enviado especial para o Oriente Médio, Steve Witkoff.

O lado russo foi representado pelo ministro das Relações Exteriores, Serguei Lavrov e pelo conselheiro diplomático do Kremlin, Yuri Ushakov.

Essa reunião representa “uma enorme vantagem do ponto de vista saudita, pois reforça seu status de ator diplomático responsável, disposto a facilitar as negociações entre grandes potências rivais”, enfatiza Omar Karim, da Universidade de Birmingham.

Isso também mostra “que Mohammed bin Salman conseguiu estabelecer relações pessoais com os presidentes Trump e Putin e que Riade é vista como um ator neutro, mas cordial e respeitado por ambos os lados”, diz Karim.

ht/sar/hm/bc/mb/dd/yr