No último Dia das Mães, o almoço da família Furlan teve um episódio melancólico. Na mesa do restaurante, a matriarca Elza Furlan, de 80 anos, olhou fixamente para Elisa e perguntou se ela era da família. “Sim, sou sua filha”, disse Elisa, calmamente. A situação exibiu o estágio avançado do Alzheimer de Elza. Entre muitas memórias perdidas, porém, há algo que Elza não esquece: a paixão pelo Corinthians, seu time de coração.

MEMÓRIA Elza Furlan: valor afetivo pelo futebol pode melhorar o quadro (Crédito:Divulgação)

Um novo projeto utiliza as memórias ligadas ao esporte para reduzir os danos da doença de Alzheimer. Em parceria com o Núcleo de Neurologia Cognitiva e do Comportamento do Hospital das Clínicas, o Museu do Futebol promove encontros com pacientes e suas famílias para estimular as lembranças ligadas ao esporte, por meio de partidas e gols inesquecíveis. “Quando o paciente tem um valor afetivo pelo futebol, há uma melhoria do quadro”, explica Leonel Takada, médico da Universidade de São Paulo (USP). Segundo o especialista, a doença de Alzheimer é degenerativa e atinge o cérebro. “O futebol é uma estratégia de estímulo”, diz. A proposta começou de forma presencial, mas, devido à pandemia, os encontros estão acontecendo online. Com isso, o projeto se expandiu e passou a atender também quem não mora em São Paulo.

Elisa conta que a mãe se lembra de tudo relacionado ao futebol, principalmente dos gols de seu ídolo, o jogador Rivellino, e da Seleção Brasileira na Copa de 1970. “Graças ao projeto, minha mãe vive mais períodos alegres do que complicados”, diz Elza. Essa abordagem original da medicina é uma grande vitória para todos os torcedores brasileiros.